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Sessão de li dê Fevereiro de 19È1

Foi o génio de Gomes Leal que em estrofes virulentas arrebatou as massas e as impeliu para a Revolução.

Por consequência parece-me que devemos prestar o nosso preito de respeito e consideração pela perda do vulto glorioso que em vida se chamou Gomes Leal. (Apoiados).

O certo é que o seu enterramento, se não foi feito com toda aquela sumptuost-dade que era para desejar, todavia, não foi vergonhoso para o País, pois se o acompanhamento não avultava pelo número, foi no enitanto um dos mais brilhantes que eu tenho visto pela qualidade intelectual dos que se encorporaram no préstito.

Este facto recorda-me um outro remoto que, a história narra, com respeito a um orador que se propunha fazer um discurso no Fórum romano e apenas encontrou um só espectador: Cícero.

O orador, subindo à tribuna, sem se perturbar, antes entusiasmado, disse: Basta Marco Túlio Cícero para com a sua presença encher este salão!

Assim sucedeu com o extinto. Bastariam alguns dos nomes que o acompanharam para encherem as praças e as ruas do trajecto.

Gomes Leal teve um período que é preciso não esquecer.

Gomes Leal foi grande p arte da vida livre pensador. Vivendo entregue aos carinhos de sua mãe, que tinha desgosto e sentia com a irreligião de seu filho, à hora em que ela se finava, pediu-lhe piedosamente que fosse ouvir missa por siia alma. Gomes Leal, o filho extremoso, obedeceu à última vontade de sua mãe.

Foi assim que o hereje correu a ouvir â primeira missa, sòltando-se então dos seus velhos compromissos para abraçar o catolicismo.

Este facto fez com que aqueles que adoravam o nome de Gomes Leal se tornassem frios e desdenhosos.

Grande erro! Injusta crueldade para com os fracos!

Essa transformação, como V. Ex.a sabe, é frequente e traduz um fenómeno biológico.

Quando na velhice já não achamos forças para dominar o nosso espírito, ressurge em nós o homem ancestral com todas as suas taras.

Eu, que conheço bem tudo isto, com pormeuorização que não ó para agora desenvolver, não posso dizer que amanhã, quando as minhas forças falirem, não me ajoelhe acaso aos pés de uni padre e rne não persigne, renegando involuntária e inconscientemente todo o meu passado.

Termino dizendo que o enterro de Gomes Leal saiu da minha casa e foi reli- • gioso. Fez-se isto por ordem do Sr. Provedor da Assistência e com o meu pleno acordo.

Demos, porém, a isto á interpretação que o caso merece.

Eu e correligionários meus, acompanhámos esse enterro, como muitos indivíduos livres pensadores, entre eles o ilustre publicista Borges Graínha. Não fomos ali senão para acompanhar os restos mortais de Gomes Leal, prestando a nossa homenagem de respeito ao grande poeta que era Gomes Leal. Nesse enterro cumpriu-se a vontade do falecido, e continuou a respeitar-se-lhe a memória de sua querida mãe.

Nestas condições terminou o meu mandato, em relação ao nosso finado amigo.

Gomes Leal deparou-se-me um dia, roto, maltratado, em circunstâncias impróprias de um homem daqueles. A Assistência Pública tomou .conta dele, entendendo que devia confiar-mo. Os jornais aplaudiram a escolha.

Em nome da sociedade fiquei com o encargo de cuidar e tratar de Gomes Leal. Desempenhei-me desse encargo o melhor que pude e soube.

E a última étape deste cruel drama da vida. Venho dar conta da minha obra perante a Câmara dos Senhores Deputados.

O Sr. Presidente: — Devo dar uma explicação à Câmara. Muito propositadamente, quando me referi ao falecimento dós Srs. João da Rocha e Conde de Ver-ride, não fiz referência à morte do Sr. Gomes Leal, porque já o ÍSr. Ladislao. Batalha se tinha inscrito para aludir a esse' falecimento.

Já se prestaram a Gomes Leal as homenagens que lhe eram devidas.

Suponho interpretar o sentir da Cá* mara, fazendo exarar na acta um voto de pesar pela morte do ilustre poeta.