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Diário da Câmara dos Deputados

Sr. Presidente: era uma aspiração de toda a alma republicana, e por isso ressuscitei o quartel de Alcântara. É certo, todavia, que na cua mensagem os Srs. oficiais da armada me pediam para que jamais no quartel de Alcântara, por moti-vps técnicos que apresentaram, se estabelecesse a escola de recrutas da armada.

Esta escola funcionava e funcionava mal no Alfeite, posso até prová-lo com dados oficiais que existem no Ministério da Marinha. As próprias casernas dos soldados que lá estão a receber instrução nem esgotos têm.

Mas, estando eu em princípio de acordo com os Srs. oficiais, admitindo até que eu lhes tivesse dito que manteria através de sompre a escola de recrutas no Alfeite e que jama"is a traria para Alcântara, pregunto se não podiam posteriormente, no meu espírito, surgir razões fundamentais que me levassem a mudar de parecer! £E então eu, como representante do Governo e como chefe supremo da corporação da armada, era obrigado, à face de qualquer regulamento, a dar porventura satisfação a inferiores meus?!

Mas quero ser leal e franco. Quero dizer à Câmara, que me escuta, inteiramente a verdade e mostrar-lhe a minh^ alma tal qual ela é, rude talvez, mas em extremo sincera.

Eu só não chamei os Srs. oficiais que me entregaram a mensagem, porque não estava em Lisboa quando saiu o decreto no Diário do Governo. Tê-lo-hia feito, não porque como chefe esquecesse as minhas prerrogativas, mas como prova altíssima de consideração, de respeito e de amizade por homens republicanos como eu e que à pátria têm dado o melhor do seu esforço.

Sr. Presidente: não o fiz porque não estava em Lisboa. Assinei o decreto ao abrigo da lei n.° 971. Essa lei terminava em 31 de Dezembro. Estava no Alentejo e assinei o decreto em 30 daquele mês.

Cheguei depois a Lisboa, na disposição de chamar esses oficiais para de qualquer maneira os colocar bem em relação às satisfações que lhes daria.

Ao que parece já estava convocada a reunião do Clube Naval. Já se dizia que, nessa assembléa, o Ministro ia ser violen-

tamente atacado pelos actos que praticara e que se dizia' representarem desconsideração para com os oficiais da mnada.

Não sou homem que trema perante ameaças. Mantive-me no logar de Ministro e esperei a reunião do Clube Naval. Deu-se a reunião. Fora convocada por escrito pela Mesa. Preguntei então, quem fazia parte dela. Disseram-me :jue o presidente era o Sr. major general da armada.

Fez-se a reunião. Eu estava e.nsioso por saber o que nela se passara.

O Clube Na vai é uma instituição legal. Pode reunir, mas há-de reunir sempre em relação à letra expressa dos s-3us estatutos aprovados.

No dia imediato- ao da reunião os jornais da/am a nota oficiosa dessa reunião, pela qual se depreendia que os actos do Ministre» haviam sido discutidos e que esses'oficiais de qualquer maneira tinham resolvido interromper as suas relações com "o seu superior hierárquicc, chefe supremo da corporação. Eu, sempre meticuloso, lavrei um despacho ao major general da Armada; na reunião do Clube Naval fora infringido o n.° 46 do artigo 4.°, que diz que, nas reuniões totais ou parciais da corporação, não é lícito discutir os actos dos superiores e, portanto, eu queria que o Sr. major general da armada me esclarecesse sobre o que se havia passado em tal reunião.

Sobre esse meu despacho foi lançado o do Sr. Major General da Arnu-da, nos se-gaintes termos: «Nomeie-se o Sr. almirante Loforte para indagar io que se passou na reunião do Clube Naval para se habilitar ò Sr. Ministro £,o procedimento que entenda».

Fui para o norte. Esperava eu que o Sr. major general da armada, que era o presidente da Mesa do Clibe Militar Naval, interviesse directamente, mesmo sem eu lhe mandar o despacho que passei.