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Sessão de 11 de Fevereiro de 1921

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perguntava todos os dias quando o Ministro vinha.

Tendo eu perguntado se estava feito o inquérito, o Sr. major general da armada respondeu que, não estando presente em Lisboa o Ministro, ele não tinha de responder confidencialmente porque o Ministro não estava em Lisboa.

De facto eu não estava em Lisboa, mas o meu Gabinete podia informar e S. Ex.a não podia apresentar a desculpa de que esperava que eu regressasse.

Não fui ao Conselho de Ministros pedir solidariedades, porque como Ministro não as necessitava. Tinha por mim a autoridade que me dava o desempenho do meu cargo.

Como Ministro não necessitava de solidariedades e, pessoalmente, não necessitava de solidariedades para factos que me não compete relatar.

Sr. Presidente: expostos os factos em Conselho, os Srs. Ministros falaram e não esqueço as altas provas de solidariedade que, sem lhas pedir, eles me manifestaram.

Sr. Presidente: saio do Ministério da Marinha de cabeça bem erguida e de espinha bem direita. Não podia continuar à testa da pasta da Marinha e não podia' deixar de ser inflexível nas resoluções tomadas. ;

Com franquesa direi à Câmara o procedimento que ia adoptar. Dizia-se que estávamos na contingência duma en-, trega de espadas. Não sei se estávamos ou não; mas, se os- Srs. oficiais me entregassem as suas espadas, aceitava-as e demitia-os (Apoiados). Se os Srs. oficiais me pedissem a demissão, àceitava-a.

Vozes;.—Muito bem. Apoiado.

O Orador: — Digo-o com toda a franqueza.

Se os Srs. oficiais, desde o almirante ao mais inferior na escala hierárquica, não cumprissem as minhas ordens, impor-Ihes-ia as penas disciplinares. (Apoiados).

Tinha 'força para lhes aplicar o regulamento disciplinar. A disciplina havia de inanter-se. (Apoiados),

Sou o que sou. Não ameacei, nem podia ameaçar ninguém, mas não abdico das< minhas funções. Mantê-la-hei, custe o que

custar, a troco até da própria vida. (Apoiados).

Vozes: — j Muito bem!

0 Orador: — O que se passa é um sintoma de degenerescência desta sociedade. Esta República, com dez anos apenas, por momentos parece viver na velhice precoce;. parece ser uma instituição depauperada; parece arrastar essa vida de miséria e vergonha e ter horror às posições ere-jetas-

1 Estamos, porventura, em presença de acontecimentos bem próximos l Oxalá que as instituições estejam bem fortes para cão se subverterem pelos abusos que têm vindo sempre cometendo-se contra elas.

Sou daqueles que temem já a situação em que nos encontramos, e não tenho dúvida em relatar ao país este facto: em Portugal todos mandam menos o Governo; todos' têm força menos o Governo.

i Em Portugal a função dos Governos é transigir, transigir numa transigência que é uma abdicação! (Apoiados).

Temos a demonstração completa de que esta República já não está forte.

Aqui me encontro na minha cadeira de deputado; e muitas vezes pergunto a mim próprio se ainda vale a pena íazer sacrifícios por uma instituição caduca. (Apoiados).

Tenho as mãos honradas e limpas, a consciência perfeitamente tranquila. £ Hei de andar 'a consumir á minha saúde, a minha energia, para me vergar perante situações em que a própria República não tem força nem coragem para se desafrontar? (Apoiados).

Vive-se permanentemente num regime de transigências e de conversas, (apoiados). Não sei, Sr. Presidente, qual o.futuro que me estará reservado: mas podem a Câmara e o país estar certos de que, se um dia for novamente chamado a ocupar lugar idêntico àquele, que acabei de abandonar, o farei apreciando as questões segundo as leis e os regulamentos, apresentando-me tal qual sou, absolutamente intransigente com os próprios inimigos, intransigente na defesa da República!