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Diário da Câmara dos Deputados

vez um pouco íora da linguagem que usualmente emprego, dizendo que seria preso por ter cão, como por não ter cão.

Sr. Presidente: mas eu não receio nada a censura dos meus actos, e até a desejo, porque a censura aberta, franca, feita a peito descoberto como era uso antigo entre os leais portugueses, só pode dar lugar a desfazer aquilo que nos bas fonds, nos conciliábulos estreitos e reduzidos, se possa gerar contra mim e contra a minha acção, e, quem sabe, talvez, até- contra o meu patriotismo e republicanismo por parte de muitos, coitados, que têm necessidade de andar em «ombóios rápidos para chegarem ao termo a que chegam os que vão em comboios ordinários trilhando os rails que hão-de levar-nos à efectivação das nossas aspirações pela Eepública e à realização do nosso ideal para o fim da Eepública ser o regime que nós sonhámos.

Gosto da censura aberta e leal porque ela dá lugar a defender-me.

Nomeei pessoas em quem reconheci e reconheço qualidades de trabalho, qualidades de inteligência e qualidades de competência.

O Sr. Vitorino Guimarães (interrompendo] : — Durante o meu discurso tive o cuidado de não dizer a mais leve palavra sobre as pessoas que estão em Paris. Quem ouvir o discurso de V. Ex.a há-de julgar que eu ataquei essas pessoas.

O Orador: — Eu não estou respondendo apenas a V. Ex.a V. Ex.a foi apenas para mim o Cirineu admirável que quis lançar piedosamente ao furado madeiro que me pusersm sobre os ombros as suas mãos auxiliadoras e protectoras para o poder levar a bom termo.

O Sr. António Granjo (interrompendo):— O bom termo é ser crucificado.

O Orador: — Esse é um mau termo. Aproveitei apenas a ocasião para dizer isto, e ainda mais que, até agora, pelos documentos recebidos no Ministério dos Negócios Estrangeiros, não tenho razão para crer que haja qualquer insuficiência da 'parte dos nossos delegados que nos possa levar a maus resultados, em que, aliás, continuo a dizer "não acredito.

Mas o mal, dizia eu há pouco, vem da instabilidade dos Governos, porque, no primeiro momento em que o Sr. Vitorino Guimarães apresentou o pedido da sua demissão, se o Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros tivesse possibilidade de'se conservar na sua cadeira sem as longas negociações de uma crise, êl3 teria procurado saber de S. Ex.a se demitia ou se se convenceria de que devia continuar. E, de duas, uma: ou o Sr. Vitorino Guimarães se convencia de que devia continuar, e então estava tudo bem, ou, se não aceitasse, nesse momento seria substituído.

Passou-se um largo prazo e não era eu, Ministro dos Negócios Estrangeiros, quem, dentro desse prazo, desde a apresentação do pedido de demissão do Sr. Vitorino Guimarães até que ocupei a pasta, devia nomear o seu substituto.

O mal veio daí, e também do Sr. Vitorino Guimarães não se ter, infelizmente, convencido das razões que havia para não abandonar a Gomis s ao de Reparações.

Eu queria que S. Ex.a me dissesse e à Câmara quantos são 03 processos que estão na Comissão de Reparações.

O Sr. Vitorino Guimarães (interrompendo) : — j Isso não sei!

O Orador: — Certamente V. Ex.a concordará comigo se eu disser que são algumas centenas.

O Sr. Vitorino Guimarães (interrompendo):— Só de Angola devem existir alguns milhares.

O Orador:—Dentro de milhares contam-se muitas centenas.

V. Ex.a vê que, tendo sidc substituído em meados de Dezembro pelos novos delegados, que soma de trabalho é indispensável para examinar, um a um, todos esses documentos que estão na Comissão de Reparações.

Esse trabalho tem sido feito e conduzido de maneira a ter toda a esperança, que me lisonjeia como português e como Ministro, de que os resultados não hão-de ser^maus, como parecem ser.