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da Gâln&ra dos

Mas o certo é que, para uma obra destas, o déficit que se apresentava pavoroso, quando a monarquia caiu, porque era de cerca de 3:000 contos, apesar de todos os Ministros que se sucederam na pasta das Finanças clamarem que se devia tratar do equilíbrio orçamental, decorrido todo este tempo, a despeito de todos esses esforços, esse déficit subiu a 26:000 contos. E como poderia ser de outro modo?

Há números que são deveras ridículos, mas, como é também pelo ridículo que se castigam os maus costumes a que chegámos, feito o cálculo em conformidade com uma repartição do tempo pelo número dos Ministros que se tem revesado no Poder, encontramos 0,37 de Ministro por cada mês.

Ora aqui está a razão da ineficácia de tudo quanto se faça e porque é inútil tudo quanto se empreender. Torna-se indispensável, portanto, a neutralização do Ministério das Finanças.

O Ministério das Finanças não pode por forma alguma estar sujeito a caprichos da política tumultosa em que se vai avançando.

Emquanto cada Ministro, ao chegar ao Poder, se limitar a destruir o que o Ministro anterior fez, será de cada vez maior a crise.

Vejo com estranheza um fenómeno que não compreendo, para não dizer que compreendo perfeitamente.

Estávamos em 17 de Novembro. Subiu ao Poder um Ministério presidido pelo Sr. Álvaro de Castro, que foi recebido festivamente, j Sete dias depois caía dentro desta casa! Por consequência não merecia a confiança do Parlamento, embora nada tivesse feito para merecer a sua desconfiança.

Todos estamos concordes em considerar o Sr. Álvaro de Castro uma alta capacidade, uma figura de grande relevo. (Apoiados).

Caiu, pois, esse Ministério e quatro dias depois era nomeado, por assim dizer, um Ministério com os mesmos homens do Governo anterior.

Estamos de acordo que os Ministros do Gabinete do Sr. Álvaro de Castro eram figuras do maior realce, dentro da Kepú-blica, mas esses mesmos homens, esse' mesmo Ministério que havia caído no Con-'

gresso, passaram imediatamente a merecer confiança e por uma razão muito simples: o Sr. Álvaro de Castro já não era Presidente do Ministério, a presidência havia passado para o Sr. Liberato Pinto.

De maneira que os mesmos homens que na véspera não mereciam confiança, passaram imediatamente a merecê-la por essa circunstância. Por conseguinte pode--se ponderar nesta altura como o personagem do Hamlet: To be, or not to be...

Derrubado o Ministério da presidência do Sr. Liberato Pinto, veio ao Poder o Ministério do Sr. Bernardino Machado e-o Sr. Álvaro de Castro, que no Ministério anterior não merecia confiança, tornou a ser nomeado Ministro, porque então já merecia... confiança l

Portanto conclui-se disto que o Sr. Álvaro de Castro é em política considerado uma figura de realce, conforme as circunstâncias caprichosas da política, ora merecendo, ora não merecendo a confiança do Parlamento. (Apoiados).

Note-se que pessoalmente sou de opi-' nião que o Sr. Álvaro de Castro é sempre uma figura de relevo da República.

Pelo que -respeita a finanças, temos outra cousa, também muito curiosa.

No Ministério do Sr. Liberato Pinto apresentou-se ao Parlamento o Sr. Cunha Leal com as suas propostas d'9 finanças, que, se não foram recebidas carinhosamente, também o não foram na, ponta das espadas, como sói dizer-se. Essas propostas de finanças referiam-se principalmente à transmissão de direitos por título oneroso e gratuito e à contribuição industrial e predial.

Como Y. Ex.as devem recordar-se, levantou-se aqui o Carmo e a Trindade, caiu o sacristão e o altar-mór, como se diz no Minho, a propósito dessas propostas.

Levantaram-se as forças vivas da nação, houve uma celeuma enorme, barafustava-se que tais propostas eram a liquidação social que tudo subvertia, e o Sr. Cunha Leal caiu, farto de dissabores e de atritos. S. Ex.a deixou o Ministério, justamente por causa das suas propostas.