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Sessão de 10 G 11 de Março de 1921

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Vejo, porém, o Sr. Bernardino Machado, e ao fim de muitos e variados passes da sua varinha mágica, como que ressuscitar o cadavérico e decomposto lázaro. . Recompôs essa decomposição, e aí a temos agora de novo na nossa frente, nos bancos ministeriais,, com aparências de uma vida que será tam longa ou tam breve quanto o seja a da Presidência Ministerial de is. ExA Mas para que navegue nos emparcelados e agitados mares da nossa política, necessário é que S. Ex.a não adormeça um só instante sobre o leme da governação.

De contrário logo mergulharia nas on-as como o Paliuuro da Eneida, descon-untada a barca em que se meteu. Certo ó que S. Ex.a é um piloto experimentado, do muito mar, seguro da sua rota, conhecedor dos ventos e das tempestades. Mas não poderá evitar a sorte de Palinuro, mnis tarde ou mais cedo, principalmente quando só não tenha absoluta segurança da equipagem que o meteu e leva a bordo. (Risos). E não leve S. Ex.a a mal que eu lhe'profetize, desde já, a sorte do piloto da epopeia vorgiliaua, pois tenho a certeza de que S. Èx.a, cuja principal característica política é a cordeal concordância com toda a gente, mesmo na mais formal discordância, será o primeiro a achar-me razão, porquanto se não são Palinuros, ou de Palinuro não tenham a sorte, todos os pilotos que navegam sobre as ondas dos mares que circundam a terra, Palinuros são todos aqueles, por mais dextros ou sabidos que sejam, que se metam a dirigir naus ou mesmo simples galeotas sobre as ondas ou mesmo nos estagnos dos meios parlamentares'.

Esses todos têm o mergulho certo, Sr. Presidente do Ministério, de cabeça para baixo, como na "epopeia latina, e segundo a tradução do nosso ilustre e comum amigo e eminente humanista, Sr. Coelho de Carvalho.

E questão de tempo, mas sorte inevitável de todos os pilotos políticos. Não quero isto dizer que eu anseie ou rejubile com o fatal naufrágio ministerial; mas apenas que entendo que todo o alerta ó pouco não só para os escolhos do mar, como ainda para as manobras da variegada maruja governativa que com V. Ex.a a bordo vai .. . Toda a perícia náutica de V. Ex.a talvez não seja suficiente

para conseguir o que a estradiota do Sr. Liberato Pinto não conseguiu ... (Risos).

Disse eu há pouco, Sr. Presidente, que o Sr. Bernardino Machado, apresentando--se no Parlamento com o elenco ministerial que traz, realizara a «recomposição duma composição». Já o mesmo fizera o Sr. Liberato Pinto organizando o seu Governo, ou melhor^ o Governo do Sr. Cunha Leal, com os salvados da jangada ministerial do Sr. Álvaro de Castro. Agora o Sr. Bernardino Machado apresenta-se aqui com os salvados das duas jangadas anteriores, isto é, com o Sr. Cunha Leal a menos e não sei se com. o Si\ António Maria da Silva a mais.

E certo que vejo no Ministério o meu antigo amigo e correligionário no extinto e saiídoso partido evolucionista Sr. Júlio Martins, ontem ainda chefe político do Sr. Cunha Leal, seu colega no Ministério Liberato Pinto, e creio que ainda hoje também, que o Sr. Cunha Leal não faz parte do Governo presidido pelo Sr; Bernardino Machado. Mas o Sr. Júlio MartiiiSj que no Ministério Liberato Pinto tam mal se deu com os ares marítimos, aparece-nos agora, no Ministério actual, porventura procurando refazer-se com uma espécie de «cura de repouso» nas regiões mais serenas do Ministério da Instrução j aliââ em Portugal tam pouco grato a Minerva, a deusa da sciência e das artes, Ministério sobre o qual, desde que foi nado com a República, parece pesar uma aura da insuficiência e de ridículo derivada, porventura, da fama e da tradição que, em má hora, nele deixou o seu primeiro inquilino.