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Diário da Câmara dos Deputados

De novo, vejo ainda no Ministério actual o meu velho e querido amigo Sr. Fernando Brederode, uma das mais interessantes e vincadas personalidades da geração académica a que pertenci e que na nossa história política ficou sendo conhecida pela «geração do ultimatum» e que foi aquela que haveria mais tarde de presidir à instalação da República. Está de novo na pasta da Marinha, em cuja corporação, pelas suas distintas qualidades pessoais, deixou amais grata memória.

Talvez esteja de novo aí para protíurar acalmar os ares agitados pela passagem do seu chefe político pela mesma pasta e que tam mal lhe fizeram à fisiologia pessoal e política. Se assim for, não serei eu que por isso o censure, cônscio como estou de que, acima dos desastres ministeriais, seja qual for a sua determinante, cumpre salvaguardar o prestígio imaculado da República.. .

Vejo ainda vago nas bancadas do Go-vêrno o lugar do Ministro da Agricultura. Não quis continuar nele o Sr. João Gonçalves, que no Ministério do Sr. Li-berato Pinto representava o grupo dos parlamentares independentes, não os independentes agrupados, como erroneamente por aí se tem dito, pois que no Parlamento não há independentes agrupados, o que não quere dizer que não haja um grupo de Deputados independentes, os quais,.ao Sr. João Gonçalves, no Ministério Liberato Pinto, dispensavam o seu apoio parlamentar. Por duas vezes eles impediram que, desgostoso com as dificuldades- derivadas não só das circunstâncias administrativas, mas principalmente de certos atritos na própria vida interna, S.Ex.a saísse do Ministério, abrindo assim prematuramente uma crise intempestiva e cuja responsabilidade lhe não devia caber.

Reservada pelo Sr. Bernardino Machado, como S. Ex.a fez saber, na última étape da crise a pasta da Agricultura para algum dos independentes, estes alvitraram que nela continuasse o Sr. João Gonçalves, se-assim o entendesse, pois que tinha tanto direito a sair ou a ficar como aqueles que saíram do gabinete Liberato Pinto ou que desse ressurgiram no Gabinete actua}. Por duas vezes S.Ex.afôra sacrificado a permanecer no Gabinete Liberato Pinto. Seria cruel impor-lhe novo sacrifício, agora que se lhe abria a can-

cela da liberdade. E por ela abalou então livremente e, sem dúvida, alegremente, para longe dos cuidados que o mortificaram e para junto dos seus amigos, que tam carinhosamente de novo o acolhem'

O Sr. Bernardino Machado decerto preencherá a lacuna com alguém,, daqueles grupos representados no Ministério e que cubiçosamente espreitam o painço da gaiola. .. agrícola. (Risos). Ausim, poderá S. Ex.a, num sábio jogo aritoético, equilibrar, dentro do seu Ministério, as pretensões de qualquer grupo raenos satisfeito. S. Ex.a é um político da escola de Talleyrand, o qual dizia, e bem, que «a política se fazia com os dtidos e não a coices», e, portanto, sabe bem mexer os dedos e deixar cair por entra eles o.. . painço das pastas, precisamer te onde realmente mais lhe convenha. (Risos).

Os meus parabéns, porta.ito, ao Sr. João Gonçalves por se encoitrar agora livre finalmente dos cuidados da agricultura e, sobretudo, das subsis-:ências e seu concomitante comissário.