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Sessão de 10 e 11 de Marco de 1921

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aprovado as moções referidas e porque acho bem a presença do Sr. António Maria da Silva na pasta para tirar as consequências lógicas da doutrina então expendida na sua moção.

O que eu não sei é se S. Ex.a se sentirá bem ao lado daqueles ministros que ontem tanto apoiavam o Sr. Cunha Leal, nem tam pouco se estes se sentirão igualmente bem ao lado do Ministro que, mais que ninguém, ontem mais concorreu para derrubar esse já hoje lendário Ministro das Finanças. Não sei, repito;,o que sei, pois que o vejo, é que todos eles se sentem igualmente bem ao lado do Sr. Ber-nardino Machado, o ilustre presidente do Ministério. Sendo assim, como creio, ó porque realmente o Sr. Bernardino Machado é o chefe do Governo, a cabeça dirigente do Ministério, o responsável por uma política que ele imporá aos seus colaboradores de hoje, ele, que, com a sua risonha cordealidade de sempre, poderá dizer que preside a um Ministério de. .. chefes, dos quais ele é o marechal de direito e... de facto. «Todos chefes», dirá carinhosamente S. Ex.a, tal como aquele rei de. Nápoles que da janela do seu palácio proclamou inarquezes uma multidão que inesperada e festivamente o aclamava. (Risos).

E. se assim não for, se realmente o Sr. Bernardino Machado não é ou não for realmente o chefe do Governo, impondo--Ihe uma política firme, é porque o Sr. Bernardino Machado terá deixado de ser quem era, não tendo valido a pena a sua intervenção no Governo para libertar a impotente estradiota do Sr. Liberato Pinto da incontinência e desobediência dos variegados chefes e sub-chefes que encontrava pelotonados pelo Sr. Álvaro de Castro no seu fugaz Ministério e a que teve depois que presidir, mas não... comandar.

Assim, afigura-se me que entre estes dois ministérios sucessivos, -por um fenómeno de insomnia política, sendo os principais componentes qualitativos os mesmos, há apenas esta diferença. . . fundamental— o anterior era presidido pelo Sr. Liberato Pinto, o actual é comandado pelo Sr. Bernardino Machado, isto diz tudo, ou então este Ministério já não será nada nem poderá ser nada. (Risos).

Sr. Presidente: eu vou terminar, tanto

mais que sinto ter já abusado excessivamente da paciência da Câmara.

Assim, resumirei as minhas considerações, que procurei tornar tão amenas e suaves como a tradicional cordealidade do eminente chefe do Governo, dizendo que no quadro que procurei fazer da respectiva situação de S. Ex.a e dos seus acidentais colegas no Ministério dentro das suas respectivas psicologias e da circuns-tancialidade do momento político, procurei interpretar a significação do Ministério,"a qual bem poderá ser a tentativa de se inaugurar uma política malgré os políticos chamados a realiza-la. Por isso não me deterei na apreciação do programa ministerial, que deve, a meu ver, ser o programa arrancado pelo Sr. Bernardino Machado às divergências anteriores dos seus colaboradores actuais — tuti mar-cJiesi, como na anedota do rei de Nápoles — e que S. Ex.a terá conseguido enfeixar num mesmo feixe de forçadas concordâncias. S. Ex.;i estará, pois, de acordo com todos eles, visto que S. Ex.° conseguiria pô-los todos de acordo, senão entre si, pelo menos com S. Ex.a. Ou S. Ex.a já não fosse o Sr. Bernardino Machado, pautando-lhes a regra do bem viver dentro do seu Ministério, depois de verem o país cansado duma tão prolongada gestação ministerial que elas se mostraram impotentes para resolver.

E, se assim não foi ou não é, não valia a pena ir arrancar o Sr~ Bernardino Machado da Parede (Risos) onde se encontrava retemperando o seu rijo organismo fisiológico e moral.

Prefiro, a discutir o programa, aguardar o Governo nos seus actos. Por eles pautarei o meu procedimento nesta Câmara, sem intuitos reservados, porque não sou candidato a pastas, e espero vir a morrer com a consolação de ter sido o único português que nunca foi ministeriável na sua vida. (Risos). Assim, Sr. Presidente, não farei como a oposição financeira ao Governo que, pela voz do Sr. Cunha Leal, ilustre leader do Sr. Ministro da Instrução nesta Câmara, prometeu ao Governo um franco apoio na ponta de um.. . chuço; dar-lhe hei, porém, a minha cooperação parlamentar, republicana e patriótica. (Apoiados.')