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Diário da Câmara dos Deputados

dar-se divergências internas, mas não devem nunca por tal motivo fracassar.

Desde que os partidos fracassam é porque não havia neles homogeneidade nas aspirações.

Ora nos partidos portugueses, que são os que mais importa considerar, estamos vendo a facilidade com que os indivíduos transitam de uns para os outros partidos.

Isto dá a entender que as aspirações de todos eles valem o mesmo, porque, se assim não fosse, tornar-se-iam incompatíveis uns com os outros.

Um indivíduo que tem aspirações, se sai dum partido vai para a vida particular, mas não para outro qualquer partido.

Esta fácil mudança de uns agrupamentos para outros, voltando ainda às vezes àqueles mesmos donde sairam, mostra que não são aspirações que conduzem os indivíduos, mas quaisquer'interesses. Nas sociedades modernas predomina tanto c individualismo, que chega a compreen-der-se que seja assim, embora contra toda a lógica.

Falei já na impossibilidade e inconveniência dos Ministros, quando no .Governo, estarem perante a Câmar^ como réus e não como representantes do Poder Executivo.

A este respeito ocorre me referir um íacto passado com Hintze Ribeiro.

Não me lembro neste momento a data do facto, mas seria fácil ver e talvez esteja nesta Câmara quem dele se recorde.

Tinha-se feito uma interpelação e pré-guntava-se a Hintze Ribeiro porque tinha feito certa nomeação.

Hintze Ribeiro respondeu que come Ministro não tinha de dar contas nem dizer as razões por que fizera a nomeação, e 'que só teria de dar satisfações se lhe mostrassem que tinha transgredido qualquer lei.

Foi esta a doutrina que ele estabeleceu, pela qual não chegou a ser atacado. A monarquia estava eivada dos mesmos males que já nos afligem. Nós cometemos, erros semelhantes. E o nosso mal é não emendarmos os erros da monarquia.

Os tempos mudaram, é certo, mas a interpretação que nós, socialistas, damos L essa'mudança de tempos é que é bem diversa da que lhe dará esta Câmara.

A humanidade no seu início não teve

classes. Só no tempo da velha Roma se criaram as classes capitalistas e proletárias.

Criou-se também a realeza que a breve trecho era combatida e foi por fim abatida. Paralelamente à realeza criara-se a classe aristocrática, a fidalguia. Contra esta classe combateu já nos tempos modernos a burguesia e venceu-a; a aristocracia está esmagada, a fidalguia desapareceu.

Uma parte extinguiu-se, outra parte transitou para a burguesia onde se encontra diluída.

As Jutas que vêm a repetir-se na história dos últimos tempos são exactamente as logicamente indicadas pela acção que a burguesia desenvolveu par?, se emancipar da casta aristocrática. Quando hoje se condenam certos atentado», parece te-reni-se esquecido os grandes crimes que a burguesia praticou através' dos séculos, para se emancipar.

Não nos esqueçamos também que foi uma época de terror aquela em que se desenvolveram as lutas da revolução francesa.

Foi o maior crime da burguesia prati.-cado nas sociedades para obter a sua emancipação, obra aliás incompleta, porque não se reparou que atrás* da emancipação burguesa ficava o proletariado a sofrer as iniqúidades duma nova classe emancipada.

A burguesia era insignificante em relação à grande humanidade, em relação aos 1:500 milhões de habitantes do mundo.

Começou consequentemente a levantar grande celeuma em toda a Europa. Logo surgiu na América uma corrente de indignação contra os privilégios que ainda se mantinham num século em que não podiam mais manter-se.

Aqui .começa a revolta latemte por toda a parte.

Deram-se os morticínios destinados a reprimir a revolta comunal c.e Paris.

A burguesia queria esmagar as consciências que se levantavam.

Seguiram-se os morticínios no forte de Montjuich.

Ferrer foi ainda vítima da burguesia espanhola, que quis lutar contra a almejada emancipação dos povos.,