O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

Sessão de^lO e 11 de^Março de 1921

O Sr. Presidente do Ministério, Ministro do Interior e, interino, da Agricultura

(Bernardino Machado) (interrompendo): — O Governo adopta essas propostas, mas, coerente com as suas declarações aqui feitas, adopta-as com as emendas que há-de propor durante a discussão.

- O Orador: — Evidentemente. Era o mesmo que acontecia quando o Sr. Cunha Leal apresentou as suas propostas.

Como eu ia dizendo, as chamadas forças vivas da nação revoltaram-se indignadamente contra as tais propostas de finanças que neste momento são adoptadas, com um mutismo incrível por parte dessas mesmas forças vivas que anteriormente as tinham torpedeado!

Isto é muito curioso.

£ Então as propostas eram ou não eram boas?

(i Qual é, pois, o critério das forças vivas, do comércio, da agricultura?

£ Estão a pôr a sua inteligência e saber em acção, ou fazem simplesmente uma política da corrilho ?

Eu tinha tenção de, a propósito da

• contribuição de registo, apresentar alguns algarismos edificantes.

Logo que o Sr. Presidente do Ministério ou o Sr. Ministro das Finanças tragam à discussão outra vez essa proposta, eu apresentarei o meu trabalho, não porque tal proposta me assuste —pois a mim, socialista, só poderá assustar-me por insuficiente— mas porque acho que precisa de modificações.

O Sr. Jorge Nunes (interrompendo): —

• V. Ex.a é um socialista capitalista.

O Orador : — Se a minha pobre propriedade pode emendar o» defeitos do regime da propriedade, eu ponho-a ao seu servi-ção; mas se é para só servir os banqueiros, de modo nenhum. ; Falei também na submissão em que o Poder Executivo está colocado perante o Legislativo e parece-me que apresentei alguns factos que demonstram a inconveniência das constantes moções de desconfiança,, resultantes de. certos conchavos partidários e mais nada. E reciprocamente parece-me também que dos votos de confiança reiterados quando- os Ministérios se apresentam outra ilação não pode

tirar-se, a não ser a de falta de bom senso.

Evidentemente que quando um Governo se apresenta ao Parlamento, este não tem elementos para confiar nem para desconfiar dele, porque ainda não teve ensejo de lhe surpreender os erros, nem ocasião de lhe apreciar actos de acerto ainda não praticados.

Portanto, a apresentação dum Governo deve ser objecto dum platonismo absoluto por parte da Câmara, e mais nada.

Este facto das moções de desconfiança obedece a uns tantos factores realmente inúteis e prejudiciais. Um deles é a multiplicidade de Ministros que ascendem a esse cargo para satisfazer a sua vaidade.

Entra-se para a política com o objectivo pessoal. Alguns entram para os Partidos porque querem ser varredores, sem que nem para isso valham, outros porque pretendem ser amanuenses, outros porgue desejam ser oficiais e outros porque querem ser ministros.

O Sr. Pais Rovisco (interrompendo): — ó E Y. Ex.a porque entrou para a política?

O Orador: — Eu entrei para a política com a esperança única de bem servir o'' meu país.

Tenho gasto a minha saúde e estou pronto a gastar a própria vida pelos meus ideais de felicidade humana. Nunca mendiguei nenhum favor para mim e por isso não receio que aqui ou lá fora contestem as minhas boas intenções.

O Sr. Pais Rovisco (interrompendo): — Há também muita gente nessas condições nos diversos partidos.

O Orador: — Mas também há muitos que se servem da política para satisfação da sua vaidade e de interesses inconfessáveis, em detrimento dos interesses do país.

Outra causa da- intensificação das crises ministeriais é a fragmentação dos partidos, o que não é fácil evitar.

Ela dá-se em Portugal e em outros países, mas entre nós é o sintoma duma grande doença nacional.