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Sessão de 19 de Abril de 1921

nhamos em toda a península, e até além dela, levada a fama lá para fora pelos estrangeiros que residiam e''vinham a Portugal, a justa tradição de médicos excelentes, de médicos admiráveis!

Muitos dos alunos que frequentam a Faculdade de Letras, como a Faculdade de Sciências, vêm a tornar-se professores do Liceu, mais tarde, é Que professores hão de ser, se vão para as Universidades com uma deficientíssima instrução secundária, e se o ensino nas Universidades se faz nas míseras condições que acabo de relatar?

Na Faculdade de Letras da Universidade de Paris —tenho aqui o regulamento (mostrando um livro] dessa Universidade — há 6 cadeiras de história antiga, com 6 professores diferentes. Em Portugal há uma! Há 4 cadeiras de História da Edade Média, com 4 professores diferentes. Em Portugal há uma! E há 11 cadeiras de história moderna e contemporânea, com 11 professores diferentes. Em Portugal, para não se fugir à regra, há uma só! Já por esse lado nós estaríamos em espantosas condições de inferioridade-. Já por esse lado o nosso ensino seria miserável. Junte-se-lhe a anarquia das greves, dos cursos livres e dos feriados, sem falar na péssima preparação e falta de zelo.de uma parte do professorado, e ver-se-há que o ensino entre nós não é nada.

É claro que não venho censurar este Governo. Sei muito bem que as responsa-bilidades estão divididas por muitos Governos. O que venho pedir é que, por amor ao País, se ponha cobro a esta situação, que se tornou intolerável. (Apoiados).

Sabe V. Ex.a. Sr. Presidente do Ministério, V. Ex.a que foi professor ilustre tantos anos, que a mentalidade nacional está cada vez mais baixa. E há-de reconhecer na sua inteligência, e há-de ver com o seu talento a necessidade imprete-rível de a elevar. De contrário, onde iremos parar? Dediquemo-nos a essa obra, sobre todas benemérita, sobro todas patriótica.

Segundo S. Bento, cada letra que se escreve é um golpe dirigido ao diabo. Ora se no País cada vez se escreve menos e pior, e se cada vez ó maior o número dos diabos, o nosso destino é fatal: se não reagirmos,, só não mudarmos de rumo

quanto antes, vamos parar às profundas-do inferno. (Risos).

Não digo mais nada. O Sr. Presidente do Ministério tomará as providências que a sua inteligência e o seu patriotismo lhe ditarem.

O Sr. Presidente do Ministério, Ministro do Interior e, interino, da Agricultura

(Bernardino Machado): — Sr. Presidente: eu direi ao ilustre Deputado que acaba de falar que tomo em toda a consideração as suas palavras. O assunto não corre pela minha pasta; porém, estou certo de que o' Sr. Ministro da Instrução Pública tomará a este respeito todas as providências que forem necessárias.

Embora o assunto não corra pelos Ministérios que dirijo, eu direi a S. Ex.a que o acompanho na expressão dos seus sentimentos porque, para mim, a questão educativa é capital.

Durante muitos anos fiz em Portugal a propaganda educativa, e tive mesmo a esperança de que, pelo desenvolvimento da instrução pública, pela cultura da Nação, se fosse operando a evolução, indo--se assim fazendo todo o nosso engrandecimento político e social.

Foi como professor, como parlamentar, como membro do Conselho Superior de Instrução Pública e como Ministro que, vendo que era impossível, dentro da monarquia, resolver o problema educativo, eu preguei que era necessário mudar de regime. Tal é a importância que ligo a esta questão.

Eu sei a atenção desvelada que o ilustre Deputado vota a este assunto.

Bastaria a publicação do livro em que S. Ex.a compendiou os seus trabalhos, dedicados à causa da educação pública; não precisaria de mais nada para ser considerado como um daqueles que mais tem trabalhado pelo desenvolvimento da mesma educação dentro do quartel, assistindo com a instrução às praças do exército.

Então rendi-lhe as minhas homenagens, e com muita satisfação; hoje, como Governo, torno públicas as homenagens tributadas.