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Diário da Câmara dos Deputado*

O Sr. Presidente do Ministério e Ministro do Interior (Bernardino Machado): — Sr. Presidente: o ilustre Deputado Sr. Vasco Borges acaba de dizer que lhe causou estranheza a apreensão de um jornal de ontem.

Eu digo mesmo mais : ignorava-a—e creio que, dizendo que a ignorava, tenho respondido apodas as preguntas de S. Ex.a

O Sr. Vasco Borges:—

O Orador:—Tenho-o lido várias6vezes, mas ontem não o li, visto que foi apreon-dido...

Interrupção do Sr. Vasco Borges.

O Orador:—Perdão, a pregunta de S. Ex.a tinha razão de ser.

Ignorava a apreensfio, porque se dela me tivesse sido dado conhecimento, eu. teria lido esse jornal.

Com respeito aos outros jornais, devo dizer que só por acaso os leio.

Não é que me não importem, porque eu preferiria que não fossem injuriosos para os poderes públicos e estimava mesmo que os nossos adversários discutissem connosco, com a cortesia com que todos aos procuramos discutir com eles, mas em geral não os leio, senão uma ou outra vez, para efectivamente ver qual é a fúria que lhes causa a vida da República e quási que exulto com os seus ataques.

São sempre a prova da nossa vida e de que os nossos adversários se sentem absolutamente incapazes de nos combater no terreno da livre e nobre discussão.

O Sr. Vasco Borges:—Eu reservo-me para continuar as minhas considerações, que simplesmente interrompi para o Sr. Presidente do Ministério poder responder imediatamente às minhas preguntas.

O Orador:—Eu terminarei já o que tinha a dizer, mas, se V. Ex.a prefere...

O Sr. Vasco Borges :— Eu prefiro sem- • pré ouvir S. Ex.a

O Orador:— E um acto de modéstia ciue ainda dá mais relevo aos méritos de S. Ex.a (Risos).

Ainda há pouco eu disse nesta Câmara que não me alvoroçaram nada os extre-

mistas que erguem bandeiras vermelhas e gritam vivas à anarquia, porque nós também, quando na oposição, erguíamos a bandeira verde-rubra e gritávamos vivas à República que nesse tempo era para a monarquia a verdadeira anarquia no pior sentido que se usa dar à palavra — contanto que não haja violências.

Também nada mo alvoroçam as tropas monárquicas e, por mim, deixaria dizer-se e escrever-se tudo, tornando-se esses ataques como um sintoma patológico do estado de alma dos nossos adversários.

Só é lamentável porque se trata de portugueses.

Nada mais.

Sobre a matéria, propriamente, a minha pena é que não tenhamos uma lei de imprensa como é necessário que exista, assegurando todas as liberdades, mas impondo todas as responsabilidades. (Apoiados).

Se essa lei existisse, não se teriam dado casos estranhos que todos nós conhecemos.

Lembra-se V. Ex.a, Sr. Presidente, e lembra-se a Câmara da campanha de injúrias que se fez contra nós durante a guerra.

Ficaram, no emtanto, inteiramente impunes todas elas.

Agora, há jornais que não tem por fim senão a acção que não é crítica, mas dissolvente da sociedade portuguesja.

Era necessário que esses jornais assumissem todas as responsabilidades pelo que escrevem, mas sobretudo, acima mesmo dessa necessidade, o que julgo indispensável é que haja uma imprensa republicana.

O que me dói, como republicano é que se possa dizer contra nós que não estamos à altura da nossa missão.

Aqui tem V, Ex.a o que eu penso, na certeza de que até agora não tinha recebido reclamação alguma da polícia.

Receboa agora.

Tenha S. Ex.a a certeza de que vou tomar as providências e de que me associo inteiramente ao seu pesar, porque o director do jornal a que S. Ex.a se .referiu, foi meu colaborador como secretário particular em 1914.