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ÍHário âa Câmara âot Deputado*

com fé patriótica, digo francamente não sou militarista no sentido que vulgarmente se dá a esta palavra; não possuo, nem compreendo o espírito de casta, que aliás não existe no exército português. Sob este aspecto ó uma instituição bem progressiva.

j£ necessário que haja no exército uma disciplina que não ó diversa da disciplina social, que não haja a violência da antiga caserna incompatível com o estado actual da civilização e com as organizações políticas modernas.

Desculpe-me V. Ex.a e a Câmara qne tome alguns minutos, falando na disciplina militar.

. Torna-se indispensável que o faça depois das expressões pouco claras, mas de um sentido que pode ser contrário ao bem do exército.

A disciplina militar, repito-o, não é diferente, não o deve ser nem as necessidades profissionais exigem que seja diversa da disciplina social.

E que, Sr. Presidente, o exército é feito para a guerra e o combate moderno exige um esforço e uma técuica, que não é compatível com os processos de disciplina automática e violenta, que a constituição dos exércitos anteriores à Kevolu-çãó Francesa impunha é as necessidades do combate de então não contrariavam.

O soldado actualmente não é um autómato.

Não o pode ser, porque, tendo de combater por vezes em frentes extensíssimas e de ocultar as objectivas ao fog > preciso e rápido do adversário, o soldado vive isolado dos seus chefes durante largas horas no vácuo terrível dum moderno campo de batalha.

A morte paira no espaço, e o simples soldado necessita de iniciativa e consciência do seu dever para se manter resoluto no seu lugar e no desempenho da sua mipsão.

Já a Câmara vê que quem assim compreende a disciplina e presta justiça à maioria dos oficiais do exército e da armada, não é militarista.

Os exércitos modernos ou se democratizam ou não existem, nem cumprem a sua missão.

Por consequência aqui existe uni erro.

Sr. Presidente: não tenho as necessárias qualidades de eloquência para poder

convencer a Câmara (Não apoiados) nem estou aqui a fazer a catequese dos que me ouvem; estou simplesmente a defender a necessidade de se atender ao valor material e moral do exército, porque se assim se não fizer, isto é, se não atendermos à valorização das nossas instituições militares, podemos dizer que não existimos com aquela independência que é timbre, da história portuguesa.

É certo que temos nuvens na nossa história que não quero lembrar neste momento mas um dos motivos principais é a falta de atenção havida para com os organismos defensivos, que em todos os tempos, mas luuito principalmente na actualidade, são elementos da agregação moral, de cultura física e de abnegação, elementos necessários à vida da nação.

A paz faz esquecer este prémio do seguro, que são as despesas militares.

A história repete-se neste período com demasiada rapidez.

São nossos contemporâneos os autores dos magníficos episódios da nossa epopeia de Angola, de Moçambique e de França e já se julga inútil qualquer despesa destinada ao exército.

Sr. Presidente : recordo coei viva emoção aquele espectáculo que, duma forma bem expressiva, alguém chamou o milagre de Tancos.

ÊSSP milagre foi obra de um homem cheio de energia e vontade, que encontrou auxiliaras dedicados e patriotas.

Esse homem de rara têmpera foi Norton de Matos, ao qual a nação, depois dos dias tenebrosos do ano terrível, que foi o de 1918, deu eloquentes testemunhos do vivo reconhecimento de quantos sentiram a grandeza e o alto significado da nossa intervenção militar na (irando Guerra.

Nessa altura foi possível realizar se o mi agre de Tancos, porque a obra da reorganização do exército que se vinha efectivando produziu os seus afeitos, e isto, Sr. Presidente, em virtude da extraordinária força de vontade de dois homens nossos colegas ilustres: o Sr. Pereira Bastos, que em 1913 conseguiu realizar as escolas de repetição e o Sr. Roberto Baptista, que concluiu essa obra.

Infelizmente, porém, não é possível esperar-se que os milagres se repitam.