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Diário da Câmara dos Deputados
que de cabedais de ilustração dispõem — são indivíduos que se alojam numa palhota como os pretos, que vivem como os pretos, e aprendem agricultura com os pretos, chegando ao ponto de até aprenderem a ler com os pretos. Um dêsses colonos encontrei eu, que, tendo feito o seu casamento cafreal com uma indígena, teve a boa sorte de ela o ensinar a ler.
Risos.
Veja V. Ex.ª que miserável colonização se poderá fazer com elementos desta ordem!
Na grande maioria, os colonos que para lá vão são desta fôrça.
Não têm capital, não têm preparação. Nem sequer têm noções de higiene.
São criaturas destinadas a dentro em pouco serem vítimas das febres, ficando inutilizadas para qualquer trabalho.
Sr. Presidente: esta chaga branca, somada ao mal que apontei da insuficiência dos trabalhadores indígenas, quanto à sua quantidade, explica bem o atraso relativo em que se encontra ainda a província de Moçambique.
Eu sei, Sr. Presidente, que presentemente, e apesar de todas as dificuldades da vida na metrópole, ninguém para lá vai para viver; quem vai para lá, mesmo nas condições de vida difícil, é para fazer fortuna.
Acho bem que assim seja, mas também para trabalhar e não com pressa de enriquecer.
É desnecessário pensar em ir fazer agricultura para Moçambique levando um capital inferior a 1:000 ou 1:500 libras; e não exagero.
Actualmente em Portugal quem tem 1:000 libras imagina que tem 100 contos, e quem tem 100 contos, em vez de ir para Moçambique, funda um Banco ou faz-se sócio de uma casa bancária.
Risos.
Levar colonos para Moçambique, sem os instalar convenientemente, sem os apetrachar para o trabalho, sem lhes dar capitais suficientes de exploração, não é fazer colonização, é apenas condenar gente que aqui vive na miséria e lá vive misèrrimamente.
Estudou-se em tempo um projecto de colonização de Lourenço Marques, e só agora, ao cabo de tantos anos e das tentativas as mais generosas e as mais bem
intencionadas, só agora há três colónias em que se fizeram casas apropriadas para êsses colonos poderem viver, casas no mato, que valeriam em Lourenço Marques 12 a 15 libras.
Nestas condições se instalaram alguns colonos com os seus alojamentos e competente assistência, que era fornecida todas as semanas, gado indispensável para o seu grangeio e com a segurança que lhe dava a lei, de que os productos teriam uma venda certa e remuneradora.
Só assim se poderia pensar de fixar colonos em Moçambique, escolher local para êles e suas famílias, porque a maior parte dos agricultores que vão para Moçambique são sapateiros, carpinteiros ou guardas republicanos, que aborrecidas das suas profissões vão ali procurar fortuna.
E êles chegam à província sem nenhum capital para viver, e as diligências que fazem é não largarem durante semanas a secretaria do Govêrno, a pedir empregos para os quais não têm nenhuma espécie de preparação.
Sr. Presidente: não há talvez uma maneira fácil ou directa de aumentar a população indígena, e para evitar êsse mal, isto é, a saída do indígena de Moçambique, necessário se torna gastar muito dinheiro, aproveitando-se o que lá existe e fazendo-se mais largas medidas.
Para isso, é absolutamente indispensável dar ao indígena a assistência que êle necessita, principalmente a assistência médica, que êle não tem tido até agora.
Foi justamente para isso que eu alarguei o quadro dos médicos da província de Moçambique, que era de 48 médicos, para 60.
V. Ex.ªs, Sr. Presidente, e a Câmara estão vendo que 48 médicos para uma província como a da Moçambique, muitos dos quais se encontram muitas vezes a caminho da Europa por causa do clima, era muito pouco, sendo mesmo ainda os 60 médicos muito pouco para fornecer a assistência médica de que o indígena carece.
Se é um facto que não há nada que se passe na metrópole que não tenha repercussão na província, não é menos certo que tudo quanto se passa na província deve ter repercussão na metrópole.
Não há nada, Sr. Presidente, desde o mais importante; ou mais mesquinho, que