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Diário da Câmara dos Deputados
resolvido; com o voto do Conselho Legislativo, acabar com ela, me vieram oferecer uma renda de 200 libras ouro por hectar de terreno cultivado, muito esperançados de que eu não iria longe de aceitar tal proposta mediante uma renda de 300 libras.
Imaginem V. Ex.ªs qual seria a cultura que na metrópole permitiria pagar uma tal renda.
Acabei com essa indústria e por êsse facto levantou-se contra o Alto Comissário uma formidável campanha.
E já que falei em bebidas, permita-me a Câmara que eu afirme que o perigo do alcoolismo na população indígena não é nada aquilo que sustentava António Enes, quando dizia no relatório, que a Câmara certamente conhece, que o preto bebe, bebeu e beberá sempre.
O Sr. Freire de Andrade, que foi governador daquela província, também me disse mais de uma vez que quando saía no seu carro, da cidade para os arredores, o cocheiro se via na necessidade de se apear para tirar da estrada homens, mulheres e crianças que nela jaziam em completo estado de embriaguês.
Eu não vejo porém, que haja uma razão scientífica para se poder sustentar que
0 preto bebeu, bebe e beberá sempre.
O Sr. Presidente: — Deu a hora de se passar à ordem do dia.
Vozes: — Fale, fale.
O Sr. Presidente: — Em vista da manifestação da Câmara, pode V. Ex.ª continuar no uso da palavra.
O Orador: — Agradeço à Câmara a sua generosidade.
Sr. Presidente: posso garantir que na Zambézia, onde o uso da sura ora de tam maléficos resultados, não há já bebedeiras com a sura.
Não sei se o indígena se embebeda com outros produtos alcoólicos, porque êle é fértil de imaginação no fabrico dessas bebidas; porém com sura posso assegurar que não se embebedam.
O que seria realmente para desejar era acabar de vez com o uso das bebidas cafreais que mais profundamente prejudicam a saúde do preto. De facto o seu amor pela bebida é tam grande, que circunscrições há onde o indígena deixa os trabalhos de Lourenço Marques, deixa o trabalho do Transvaal e vem passar dois meses de caju na sua circunscrição. Mas êsse mal, que já hoje se encontra extraordinàriamente debelado, pode, em meu entender, abolir-se por completo. Não me parece, porém, justo que se vá impedir o indígena de usar as suas bebidas predilectas, para o obrigar a usar as bebidas vindas da metrópole.
(Apoiados).
Eu desejo que se dê à viticultura nacional o maior auxílio e julgo que as colónias podem ser, com facilidade mercado bastante para a sua produção.
Lembro-me ainda que em 1908 quando se discutiu a famosa questão dos vinhos, números colhidos na alfândega acusavam uma exportação três vezes superior à sua produção.
Êsses vinhos são todos fabricados no Poço do Bispo.
Como governador da província de Moçambique não consenti, nem podia consentir, que estas mixórdias do Poço do Bispo, que servem apenas para envenenar o preto, se arroguem foros de viticultura nacional.
Se não é lícito deixar que o preto se envenene, porque se entrega à bebedeira com os vinhos da sua terra natal, como é justo consentir que êle se envenene com vinhos idos daqui, fabricados, certamente, por pessoas que são muito respeitáveis...
Risos.
Sr. Presidente: a existência da população indígena deve muito a êste assunto, que julgo capital, e dos mais importantes.
A afirmação de António Enes não era em absoluto verdadeira. O indígena já não faz o mesmo consumo de bebidas que fazia.
Percorri Quelimane, e nas prisões não havia presos.
Preguntei a razão. Disseram-me que o preto não praticava faltas desde que deixara de se embebedar.
Risos.
Sr. Presidente: no momento actual a colónia, a despeito do seu desenvolvimento, precisa que a metrópole ainda a deixe desenvolver muito mais.
Não precisa dos sacrifícios da metro-