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Sessão de 18 de Janeiro de 1923
exista na metrópole que não exista na província. Nós temos ali, Sr. Presidente, os carbonários, temos ali a maçonaria, temos ali os bons republicanos, isto é, temos tudo o que existe na metrópole.
Assim, Sr. Presidente, como tudo quanto se dá na metrópole tem repercussão na província, tudo quanto se passa na província tem a sua repercussão na metrópole, e tanto assim é que eu sei bem a campanha que se levantou na metrópole quando eu alarguei o quadro dos médicos.
Sr. Presidente: o médico é o único funcionário na província que não tem horas, pois não sabe quando pode almoçar, quando pode jantar e quando pode dormir, tendo de estar disponível para todas as chamadas a qualquer hora e com qualquer tempo, o que não se dá com os outros funcionários que já sabem que têm de entrar às 9 horas e sair às 4.
Há na província de Moçambique funcionários muito mais zelosos que alguns, não digo todos os funcionários da metrópole. Eu conheci funcionários que não podendo ser exactos na hora de entrada da repartição eram muito exactos na hora da saída; uma cousa compensava a outra.
Risos.
Era necessário que tivessem uma maior preparação; temos de facto agora a Escola Tropical, mas os médicos estão lá dois, três e quatro anos e depois por falta de remuneração vão-se embora e a província não pode estar sem médicos.
Eu tive muita vez que nomear médicos para a Escola Tropical bem contra a minha vontade, quando desejava nomear outros funcionários.
Há também um êrro gravíssimo em se dizer que o indígena tem relutância pelo tratamento médico, quando não é assim; o indígena vai a toda a parte onde haja assistência médica e é ver o movimento que tem o hospital Miguel Bombarda. E isto que acontece num ponto acontece nos outros locais.
Sabe V. Ex.ª que o indígena em matéria de assistência médica tem as suas superstições, mas não é preciso ir aos pretos para observar êste facto; pois temos cá a bruxa de Arruda e a costureira dos marcos postais.
Risos.
É indispensável a assistência médica na província.
A despeito de tudo, a província tem-se desenvolvido, mostrando tendências a desenvolver-se ainda muito mais.
Eu tive ocasião de mandar dizer para Lisboa que, também, a Zambézia valia toda a província e a província valia uma pátria.
Tem-se trabalhado muito, sobretudo atendendo a que se começou trabalhando muito tarde.
No distrito de Moçambique, que está, talvez, destinado a ser, no ponto de vista agrícola, o mais rico da província, há 5 ou 6 anos não havia três agricultores; actualmente a sua agricultura e o seu comércio de exportação estão de tal forma desenvolvidos, que já os rendimentos da alfândega de Moçambique chegam para compensar a quebra considerável dos rendimentos alfandegários de Lourenço Marques
Começou, é certo, a trabalhar-se tarde no distrito de Moçambique, mas começou-se a trabalhar bem. Estou, por isso, convencido de que, dentro de poucos anos, Moçambique será o distrito de maior produção de toda a província.
No sul a agricultura, por emquanto, pouco mais é do que uma aspiração, ou uma fantasia. Toda a agricultura do distrito de Gaza e do distrito de Inhambane cabe à vontade dentro duma das muitas herdades do Alentejo.
Tem contribuído para êste atraso agrícola do sul da província a emigração para o Rand, aparentemente mais lucrativa e com certeza mais cómoda que o trabalho da terra.
Agricultores nos distritos de Gaza e Inhambane há, quando muito, três ou quatro, explorando a terra e tirando dela produtos de alimentação.
Os restantes agricultores são simples manchongueiros, denominação esta dada em Moçambique ao agricultor que, possuindo três ou quatro hectares de terreno, nela planta a cana para dela extrair uma bebida alcoólica, conhecida pelo sura, destinada a embebedar os pretos.
Trata-se, pois, duma agricultura verdadeiramente criminosa, que muito e muito tem contribuído para que nesses distritos se não tenha desenvolvido a verdadeira agricultura.
Para que V. Ex.ªs vejam o que rende essa agricultura, basta dizer que tendo eu