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Sessão de 19 de Fevereiro de 192$
Quem, como nós, tem acompanhado a vida de Portugal nos últimos anos, e sabe a quanto ficou reduzida essa nefanda campanha que se produziu em torno da morte dessa pobre criança que se chamou Sara de Matos, pode bem aquilatar e compreender quanto de falsidade e também de agravo para os sentimentos católicos dos portugueses se encerra nos dizeres da lápide a que acabo de referir-me.
Contra êste facto, lavro aqui, em nome da população católica do País, o meu mais enérgico protesto.
Apoiados.
Onde foi a Câmara Municipal de Lisboa buscar a base da sua afirmativa de que Sara de Matos fôra assassinada no convento das Trinas?
Em nome do que princípio lança uma afirmação destas, como um pendão de guerra à Igreja e às suas instituïções de ensino, na lápide onde indica a nova denominação duma rua?
Baseia-se, porventura, nas conclusões da Sciência?
Mas como assim, se a Sciência incidiu com toda a luz das suas mais profundas investigações sôbre essa lenda do assassínio de Sara de Matos, desfazendo-a como a um monte de espuma?!
É no veridictum dos tribunais em que se fundamenta a Câmara?
Mas como assim, se se instaurou um processo em que se estabeleceram todos os meios de prova e as suas conclusões foram de reabilitação a mais perfeita, a mais concludente das inocentes vítimas dessa campanha?
Não compreendo, Sr. Presidente, como, sendo tam concludente e tam irrefragável a verdade histórica neste sentido, a Câmara Municipal de Lisboa passo por sôbre todas as noções de decôro e se transforme em instrumento do mais baixo sectarismo contra a Igreja.
Por vezes, ao pensar nestes factos em que se manifesta uma tam grande ausência do sentimento das realidades, chego a pasmar da irreflexão com que são praticados. Pois justamente no momento em que tanto carecemos de fazer exaltar o sentimento patriótico do povo português, pregunto: o que estaria indicado à Câmara Municipal de Lisboa, já que pretendia substituir o nome da antiga rua, se para obra de maior vulto lhe não chegava a iniciativa e o valor, senão fazer a substituição pelo registo dum feito, duma data ou dum nome que, inscritos numa lápide, lembrassem de futuro às gerações que por ali passassem um exemplo de patriotismo ou de beleza, de bravura ou de bondade, salutar para as gerações e honroso para a Pátria?! Apoiados.
A isto a municipalidade de Lisboa preferiu, muito simplesmente, repetir uma falsidade e um agravo à consciência dos católicos.
Bem sei, Sr. Presidente, que os corpos administrativos são autónomos nas suas deliberações, mas também sei que há decisões que brigam tanto com a ordem, o decôro e a moral pública que o Govêrno tem muitos meios, pessoal e oficialmente, de coïbir a prática de semelhantes abusos.
São estas as considerações que dirijo ao Govêrno desta tribuna que os católicos portugueses têm para fazer ouvir os seus anseios e os seus protestos.
Tenho dito.
Vozes: — Apoiado. Muito bem.
O Sr. Sá Pereira: — O Sr. Juvenal de Araújo lavrou o seu mais solene protesto contra o facto de a Câmara Municipal de Lisboa ter dado à rua das Trinas do Mocambo o nome de rua de Sara de Matos.
Eu não quero deixar passar as considerações de S. Ex.ª sem lavrar também o meu mais veemente protesto por S. Ex.ª ter vindo apontar ao Parlamento factos que não podem ser aqui tratados, pois as Câmaras são autónomas nas suas deliberações.
Mas, porventura, se se tivesse de discutir êsse assunto, eu aplaudiria entusiàsticamente essa deliberação como protesto, e para que toda a gente saiba e não esqueça o crime praticado pelos jesuítas, que depois de desflorarem uma criança a envenenaram para encobrirem o seu crime.
Eram estas explicações que eu queria dar à Câmara.
O discurso será publicado na íntegra, revisto pelo orador, quando, nestes termos, restituir as notas taquigráficas que lhe foram enviadas.