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Diário da Câmara dos Deputados
deixou dar lições de dança, fazer piruetas ou montar nos cavalos do Estado? Quem é o responsável? Isto caiu na orgia mais escandalosa.
Quanto à denúncia do 31 de Janeiro — êsse homem acusou-me de denunciar o 31 de Janeiro — isso só me faz rir, afinal. Como se neste país houvesse necessidade de denunciar revoluções, conhecidas por todos os Govêrnos uns poucos de dias antes delas rebentarem. Quem as denuncia são os próprios conspiradores com a sua insensatez e a sua leviandade.
V. Ex.ª, Sr. Presidente, que andou metido no 31 de Janeiro, e que é um velho republicano, sabe como as cousas se passaram. V. Ex.ª não é, como muitos dos que estão dentro desta sala, um adventício da última hora. Desses que vieram para a República para comer, emquanto eu passei parte da minha vida de terra em terra e metido nas cadeias.
Fui denunciante do 31 de Janeiro e continuei, com Teofilo Braga, Manuel de Arriaga, Jacinto Nunes, Bernardino Pinheiro e Azevedo e Silva a fazer parte do directório!
E a merecer a confiança de todas as figuras eminentes do partido republicano, que depois disto me deram provas de maior consideração!
Ainda êsse homem, que me acusa, andava de calças curtas, já eu era perseguido como republicano. Verdade seja que os monárquicos nunca me fizeram o que êle e o Ministro da Guerra fizeram ao tenente Correia e outros oficiais defensores e sustentáculos das instituições que nos regem.
Em 1881, quando êsse homem estava longe de, sequer, pensar em Republica, fundava eu em Aveiro um centro republicano. O governador civil do distrito, sem a tirania dêstes republicanos adventícios da última hora, não relatou ao Govêrno toda a verdade, limitando-se a dizer que, tendo eu influência sôbre os elementos republicanos de Aveiro, era de boa prudência fazer-me sair dali, onde estava com licença. O Ministro da Guerra assim fez. Não fiquei, porém, impedido de voltar pouco depois a gozar novas licenças naquela cidade.
Em 1888, quando a maior parte dos republicanos de agora ou não eram nada ca mamavam na teta da monarquia, houve em Aveiro uma grave questão, conhecida pela questão das irmãs da caridade, que teve oco, largo eco, em todo o País. Dum lado estavam os reacionários com a família Barbosa de Magalhães, do outro lado estava eu com o elemento liberal e os republicanos. Porque é uma cousa interessante que ali, como em muitas outras partes, os republicanos andaram numa luta perpétua com os especuladores que dão agora as cartas na República.
Nós, os velhos republicanos, é que passámos para êles a ser maus republicanos, e elos, os comedores da monarquia, é que passaram a ser a síntese e o símbolo da República.
Houve uma eleição, e, na véspera, eu, considerado seu elemento decisivo, fui outra vez mandado sair de Aveiro, onde estava, de novo, com licença.
Corrido o escrutínio, a família Barbosa de Magalhães foi derrotada em toda a linha. Tamanha era contra ela a indignação pública que o avô do actual Sr. Barbosa de Magalhães, que era o governador civil, só no meio de 2 esquadrões de cavalaria, pôde recolher a sua casa, do Govêrno Civil. Emquanto o pai do Sr. Barbosa de Magalhães, para não ser morto, e em quanto lhe não chegava, também a êle o auxílio da fôrça pública, se barricava numa sacristia.
Proibiram-me, porém, os govêrnos monárquicos, a mim, republicano, que voltasse a gozar novas licenças em Aveiro? Não.
Essa glória estava reservada para a República, para esta República, que, sancionando as últimas arbitrariedades e abusos do general Sousa Rosa, até proíbe que oficiais republicaníssimos, como peito coberto de condecorações ganhas no campo da batalha, cheios de serviços à Pátria e ao regime, visitem seus filhos enfermos e seus pais moribundos.
De resto, e voltando ainda à denúncia do 31 de Janeiro, devo dizer que não estou expondo isto para justificar ou ganhar títulos de. republicano, porque, bem alto o declaro, tanto me importa que me chamem monárquico como que chamem republicano. A uns e outros não devo senão perseguições. Primeiro perseguiram-mo os monárquicos, fazendo-me andar de terra em terra e pela cadeia, emquanto êsse Sousa Rosa estava comodamente