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Sessão de 17 de Abril de 1923
O Orador: — Sr. Presidente: tinha isto sucedido, quando por altura do Entrudo foi anunciado que as casas de batota iam fechar, e dias depois, sem que se soubesse como, abriram novamente as casas de jôgo em Lisboa, e isto com a protecção da polícia.
Sr. Presidente: por que razão o Govêrno mandou fechar as casas de jôgo, e cinco ou seis dias depois as mandou abrir novamente?
Isto terá alguma ligação com o facto de uma pessoa ter perdido dinheiro nessas casas, dinheiro que, dizem, depois lhe foi restituído com juros, pelo facto de essa pessoa ser altamente protegida?
Mas então em que situação fica o homem que matou no Poço dos Negros? Se lhe dessem as jóias êle não teria a infelicidade de assassinar! Que diferença há entre a situação dêstes dois cidadãos? Um deles, desvairado, assassinou porque ninguém lhe acudiu; outro, que foi protegido, teve a sorte de lhe entregarem o dinheiro e os juros.
Não era preciso mais do que isto para que qualquer país, que tivesse alguma moral, acabasse com o jôgo por uma vez.
Apoiados.
Mas ninguém se importa com isto, voz alguma se levanta a protestar. Toda a gente acha isto bem.
O Sr. Hermano de Medeiros: — Toda a gente, não. Eu não penso assim.
O Orador: — Até agora só a minha voz se levantou.
Um oficial do exército defraudou um estabelecimento do Estado em 30 e tantos contos.
Em 1920, nos conselhos de guerra do sul, houve quarenta oficiais implicados em roubos, certamente por causa do jôgo.
Depois temos o caso do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Temos mais o caso do rapaz de 16 anos que furtou umas inscrições, e que, vendendo-as aos cambistas, foi jogar e perdeu. Com 16 anos foi jogar, e nas casas de batota deixaram-no jogar!
Por êste caminho a própria República transforma-se numa batota pública, pois já o próprio Estado vivo da batota. Vou demonstrar porquê.
Quando foi da Conferência Interparlamentar do Comércio, o Presidente da República ofereceu um banquete a todos os representantes, na Ajuda. Depois as fôrças vivas ofereceram também um banquete no Monumental Clube, banquete a que assistiram oficiais e juizes. Pois em certa altura a casa foi invadida por jogadores e meretrizes, estando, caso estravagante, um juiz presidente paredes meias com a casa onde se estava jogando.
Ninguém só salva nesta imoralidade; os próprios monárquicos, querendo dar um banquete ao lugar-tenente dum rei, que já disse que não queria ser rei, fizeram-no numa casa de batota.
O Sr. Carvalho da Silva: — Quando foi dado êsse banquete ao Sr. conselheiro Aires de Ornelas não se estava jogando.
O Orador: — Foi por isso que eu afirmei que a vida pública neste país gira toda sob a égide da batota.
Sempre que surge nina ameaça de se restabelecer a moralidade, estirpando os cancros da sociedade, imediatamente aparece nos jornais a defesa da batota; logo se levantam murmúrios lamentando a situação em que vão ficar os pobres sem a protecção da batota, pois se alega que o Monumental Clube, por exemplo, dá 4 contos por mês, o Mayer 3 contos, etc., para a pobreza.
Chega a representar uma verdadeira ignomínia êste vício socorrer a Assistência Pública.
Mas eu pregunto: o que representam êsses 3 ou 4 contos que os clubes dão para a Assistência, sabendo-se que num mês o Monumental Clube fez 280 contos líquidos e o Mayer 200?
Os clubes de batota são casas respeitáveis...
O Sr. Carlos de Vasconcelos: — Porque são frequentados por pessoas respeitáveis.
O Orador: — Devo dizer que há um magistrado judicial dos tribunais de Lisboa que é societário duma casa de batota, como há oficiais superiores do exército e banqueiros que pertencem a casas de jôgo.
São efectivamente casas frequentadas por pessoas respeitáveis, mas que vivem