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Diário da Câmara dos Deputados
Urge, pois, que os poderes públicos tomem medidas tendentes à salvação dêste desgraçado povo parecendo que a Natureza lhe voltou as costas. — João Medina.
Nestas condições, pregunto: que faz o Sr. governador de Cabo Verde?
Anda naturalmente procurando no orçamento, segundo o critério de unhas de fome, as verbas que pode cortar, porque é essa a sua principal preocupação. Tem cortado escolas, comarcas, tropas, repartições internas, etc., com uma fobia administrativa que espanta, pois afinal não faz senão desorganizar serviços.
S. Ex.ª sentado na sua cátedra administrativa, não vê a crise que vai por aquela ilha, e eu, como filho da Ilha de Santo Antão, quero levantar aqui a minha voz, pedindo rápidas e enérgicas providências, para que àquela ilha seja dispensado o devido auxílio e conveniente socorro.
Não se venha argumentar que não há dinheiro, porque isso seria uma heresia, bois a província de Gabo Verde tem na metrópole como nenhuma outra colónia um poderoso Crédito. Os rendimentos das taxas de trânsito, dos telegramas que por lá passam, que são avaliados em milhares de contos, e têm sido tirânica e atrabiliàriamente sonegados a Colónia, dão à larga e ainda multo sobejará, para liberalmente ocorrer à crise que lavra em Santo Antão.
Já o disse aqui várias vezes e torno a repeti-lo.
Não há procedimento mais revoltante, mais estranho e mais egoísta do que o da Administração Geral dos Correios e telégrafos da metrópole, a respeito dessa fonte de receita de Cabo Verde.
Recebe desde há muitos anos o que lhe não pertence, guarda-o avaramente para as suas faustosas despesas e quando alguém lhe pede êsse dinheiro, para o entregar ao seu legítimo dono, responde: «acostumado, de longa data, aos largos benefícios e comodidades que êle me dá, como querem que eu entregue ao seu dono àquilo que tanta falta me faz».
Revoltante tudo isto! Nem parece que estamos em país civilizado, regido por uma República Democrática!
Quando em Cabo Verde morreram as pessoas, a Administração Geral dos Correios, porventura auxiliou ou fez algum gesto de pretender socorrer aquele povo?
E que tem Cabo Verde com as necessidades dos correios da metrópole?
Tenho verberado êste procedimento Como merece.
Nesta Câmara costumo ser correcto.
Nem uma única voz deixei de usar aquela correcção que deve ser a principal característica do quem se senta nesta casa do Parlamento.
Mas quando vejo tamanha extorsão, tam grande injustiça, praticada contra a minha torra, sinto referver o sangue e perder aquela correcção que aqui nunca só deve perder.
Desculpem-me, pois, a minha excitação.
Portanto, é preciso mandar dinheiro para Cabo Verde, a fim de aliviar a crise de fome que lavra em Santo Antão.
O Sr. ministro das Colónias sabe onde êsse dinheiro está e tenho documentos na minha mão pelos quais se prova que é favorável a êste modo de ver, referente aos interêsses de Cabo Verde, havendo despachos seus neste sentido. Assim peço ao Sr. Ministro da Agricultura que diga ao Sr. Ministro das Colónias que mande buscar êsse dinheiro, onde êle estiver, e o mande imediatamente pára Cabo Verde.
Assim terá praticado um acto de justiça, o acto mais belo da sua vida política e de estadista.
Outro assunto que vou expor em quatro palavras, pois que estou cansado, devido ao esforço violento que empreguei.
É o seguinte:
Peço a atenção de S. Ex.ª para êste assunto.
Um empregado da, colónia de Cabo Verde, tendo chegado a ocasião de ser aposentado, foi à junta, que deu o seu parecer favorável, depois confirmado pelo governador.
Segundo â lei o empregado tinha 60 dias tara arranjar os seus papéis, para instruir o seu processo de aposentação e não os apresentando no fim de 60 dias perde os seus vencimentos. Mas, ao contrário do que manda a lei logo que êste empregado foi à junta de inspecção, cortaram-lhe os vencimentos, ficando assim na miséria.
Mas não é só isto.