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Diário da Câmara dos Deputados
Acima de tudo estão os interêsses da Pátria, que o mesmo é dizer os interêsses nacionais.
E porque assim pensamos, em V. Ex.ª, Sr. Presidente, entendemos que muito bem delegada está a representação desta Câmara, para que faça cessar quaisquer mal entendidos que porventura, tenha havido.
Levanta-se agora novo incidente, provocado pelo gesto do Sr. Cunha Leal, renunciando ao seu lugar de Deputado.
Nós, dêste lado da Câmara, fazemos os mais sinceros votos por que S. Ex.ª possa voltar — e volta — aos trabalhos parlamentares (Apoiados), e delegamos em,V. Ex.ª, Sr. Presidente, os nossos esfôrços no sentido de que S. Ex.ª ponha de parte o seu gesto, esperando também que V. Ex.ª nos dê a honra de transmitir ao Sr. Cunha Leal a expressão do nosso desejo, muito sincero, em vermos S. Ex.ª a colaborar nos trabalhos parlamentares.
Apoiados.
O orador não reviu.
O Sr. Tôrres Garcia: — Sr. Presidente: não sei se êste incidente, que já dura há dias, surgiu naturalmente, ou se foi o pretexto para. se chegar até o ponto agudo em que hoje estamos. Eu tenho-me limitado a analisar o fenómeno, a observa-lo, sem me comover perante processos que não estão dentro da minha educação republicana.
Eu não possuo merecimento algum, mas tenho o de ser republicano com princípios que não são os desta República, pois não compreendo antagonismos pessoais e questiúnculas que não deixam ter confiança nos destinos da República e no bem da Nação.
Sr. Presidente: talvez que êste defeito do meu republicanismo provenha da minha educação pela leitura que em tenra idade fiz da História da Revolução francesa, e de ter dessa, leitura tirado ensinamentos, embora contraditado pelo sentimentalismo de muitos historiadores que consideravam figuras apagadas e cruentas os homens defensores do povo sofredor, que mais trabalharam na revolução, como o grande Marat, que decretou na Convenção que se salvasse a Pátria e a República, através de tudo.
Pois, quando diziam a Marat que era preciso harmonia e conciliação, êle respondia que nessa harmonia e nessa conciliação estava a morte da República.
Transportada a harmonia e a conciliação para a República Portuguesa, daí proveio o pântano em que vivemos.
É necessário agravar mais êste conflito, levá-lo até a sua culminância para aproveitar êsse instante supremo para se liquidarem de vez nesta terra.todos os equívocos em que temos vivido.
O Sr. Carlos de Vasconcelos: — É uma solução.
O Orador: — Quem não souber vencer dará o lugar a quem saiba e possa vencer.
Fora disto só há a perda da Pátria! O que tenho eu visto em toda a vida da República?
Tenho visto que a seguir ao aparecimento de qualquer atrito por mais leve que seja, com govêrno revolucionário ou não revolucionário, com govêrno que tenha fôrça ou que a não tenha, vem logo a transigência, a abdicação.
Até já houve um movimento revolucionário, que não obstante ter saído triunfante — refiro-me ao movimento militar de 14 de Maio — nada conseguiu fazer do que se propunha levar a efeito.
A obra do Govêrno que se lhe seguiu foi inteiramente perdida. Tem sido sempre assim.
Apoiados.
Em Portugal a política é feita por anões, por gente que anda de cócoras. Eu gostava que a política da nossa República fôsse feita por homens de espinha direita, de dorso levantado, e que se orientassem sempre pela grande razão que é a «razão de Estado", a suprema lei. E é o que eu não vejo l Está fora dêsses princípios a discussão aqui travada.
Perdem-se dias e dias em torneios meramente pessoais, sem haver a menor atenção pelos supremos interêsses do Estado.
Mas já disse o bastante para demonstrar que não concordo com a forma. Como se pretende resolver uma questão que a Câmara não levantou, embora a pessoa de que se trata seja digna de toda a nossa consideração e respeito.