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Diário da Câmara dos Deputados
que querem roubar-nos e tomar o lugar que legitimamente ocupamos no mercado francês. Só temos o direito de vender o vinho do Pôrto, mas êsses tais negociantes de Cette não querem que assim suceda e, por tal motivo, vêm lançando toda a sorte de calúnias, a fim de convencer a França de que fica prejudicada na sua economia se deixar entrar os nossos vinhos. Querem, porém, V. Ex.ªs ver quanto vale esta afirmação? Vou mostrá-lo.
A França produziu, em 1921, 40 milhões de hectolitros e, tendo nos seus mercados internos e externos um consumo de tanto como 60 milhões de hectolitros, o seu deficit foi de 20 milhões.
Em 1922, ano em que obteve uma colheita absolutamente extraordinária, não tendo os franceses idea de outra tam abundante depois das de 1870 o 1876, atingiu um superavit de 10 milhões de hectolitros, mas, como disse, o ano de 1922 deve-se considerar como excepcional. Em 1923 já tal facto se não dará e, apesar do que deixo apontado — vejam esta cousa ridícula! — vêm alegar que a França tem uma crise vinícola para nos receber 100:000 pipas!
V. Ex.ª sabe o que representam 100:000 pipas de vinho? Representam uma perda para cada viticultor francês de 50 litros por ano!
Quere dizer: se uma queima de sol, se tuna pequena doença atacar as vinhas francesas, isso daria muito mais prejuízo do que 50 litros a cada viticultor.
A França tem 100 milhões de habitantes e é o povo do mundo que consome mais vinho; pois bastava que por ano cada habitante consumisse mais 2 litros para ser necessária a importação de 100:000 pipas.
Quere dizer: nós os descendentes dos Albuquerques e dos Castros demos o sacrifício do nosso sangue na Flandres e em paga é o que se vê.
Nós não podemos tomar a nuvem por Juno e aqui só há a miséria. São os falsificadores de sempre que durante o período que vai de 1919 a 1922 fizeram fortunas colossais, e que agora se sentiram prejudicados e querem à viva fôrça impedir a entrada dos vinhos portugueses.
Reuniram-se os Deputados e Senadores do sul e foram junto de Mr. Poincaré e do Ministro da Agricultura — que é um doido pela defesa da agricultura nacional. Assim cá sucedesse o mesmo e conseguiríamos a promessa de que a França se interessaria pela sua reclamação. Mas, Sr. Presidente, se de um lado estão os falsificadores, do outro estão os verdadeiros viticultores da França que por intermédio da sua imprensa defendem sem reservas a nossa causa, afirmando que é necessária a entrada dos vinhos portugueses em França.
O Govêrno Francês, esquecido já dos milhares de portugueses que repousam nas planícies da Flandres, é que não se preocupa com os nossos interêsses. Muito obrigados à França pela sua reconhecida atitude!
Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros: a V. Ex.ª que tam patriòticamente soube agir na questão do tratado de comércio com a Noruega, eu peço, em nome da minha região, em nome dos viticultores portugueses, que tenha para com a França aquele procedimento severo que a atitude dela exige.
Apoiados.
Tenho dito.
O orador não reviu.
Vozes: — Muito bem.
O Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros (Domingos Pereira): — Chamou o Sr. Serafim de Barros a esta questão uma questão muito importante, uma questão que diz respeito aos mais fundamentais interêsses da Nação. Efectivamente assim é.
Amanhã, dia 16, termina o prazo da última prorogação do modus vivendi entre Portugal e a França.
Era lícito supor que o Govêrno Francês estava disposto a combinar uma nova prorrogação, indispensável para levar a bom termo um tratado por cuja efectivação a França tem mostrado desejos.
Sr. Presidente: antes de chegar ao termo desta última prorrogação, que termina amanhã, entendi, para me libertar de possíveis acusações, sobretudo das pessoas que tratam de questões desta natureza com uma leviandade de crítica extraordinária, enviar alguém a França que, pela sua competência especial, pudesse entender-se com o Govêrno Fran-