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Diário da Câmara dos Deputados
to especialmente, que nunca me servi desta tribuna para injuriar ninguém, pois a verdade é que me tenho servido dela somente para defender os interêsses do País.
Estou, portanto, tranquilo com a minha consciência; mas, Sr. Presidente, porque alguém supôs que nas minhas palavras havia acusações contra um funcionário do Estado, êsse alguém servindo-se de um ardil fácil, mas grosseiro, pensou em levar a questão para uma pendência, para um duelo.
Sr. Presidente: eu pedi há bastante tempo, pelo Ministério do Trabalho, uns documentos respeitantes aos Hospitais Civis de Lisboa, desde 1912 até hoje, e isto com o intuito de fazer um estudo de uma obra, para ver o que a República tem feito quanto se refere a hospitais. Porém até hoje tais documentos ainda me não foram fornecidos.
Se bem que ainda não possua documentos, e eu não queira fazer a análise de uma obra por aquilo que vi particularmente, eu posso, no emtanto, dizer desde já que o actual director dos hospitais é pessoa a menos indicada para aquele lugar, pois a verdade é que um homem que tem bastantes faltas nos hospitais de. Lisboa não está indicado naturalmente para seu director. 0m homem que durante dois anos fez apenas dezasseis operações, demonstra logo que não tem muita competência para estar dentro dos hospitais, sendo além disso indisciplinador, conforme o demonstram uns documentos que tenho aqui presentes.
Há pouco tempo na enfermaria n.º 4, de Arroios, encontrava-se um dos médicos mais distintos de Portugal a tirar a história de um doente:
O Sr. Hermando de Medeiros: — V. Ex.ª pode indicar o nome dêsse médico.
O Orador: — Êsse médico era o Sr. Azevedo Gomes, o qual se encontrava, como ia dizendo, tirando a história de um doente quando o director entrou pela enfermaria acompanhado de um outro médico, por sinal estranho- aos hospitais, dizendo que êle ia proceder a êsse serviço, o que levou o dito médico a declarar que isso era desnecessário, pois que êle já tinha tirado a história do doente.
Quere a Câmara saber qual foi a resposta do director, foi a seguinte:
«Quem a mandou fazer? O senhor não sabe que êsse doente não está a seu cargo?»
Pois, Sr. Presidente, tendo êsse médico apresentado a sua reclamação, foi-lhe dado um despacho, que é uma verdadeira monstruosidade.
Êsse despacho representa uma irregularidade, porém, ainda há mais o que vou ler.
Já vê, portanto, a Câmara a indisciplina que existe nos hospitais.
Tem porventura a coragem de castigar, se castigo merece, o director daquela enfermaria?
Não tem; e vem dizer que há um depoimento só do próprio interessado que lhe deixa dúvidas do inquérito.
O próprio director dos hospitais vem dizer que êsse médico é interessado e inábil para depor. E perante êste documento não tem coragem de fazer justiça.
Como as pessoas dê valor médico são inimigas do verdadeiro valor, é preciso que se inutilize êsse médico distinto que é o Sr. Azevedo Gomes.
Então, perfeitamente à vontade, o director dos hospitais, por meio dum despacho, calunioso pelas insinuações que contém, fecha a enfermaria. Faz isto na ocasião em que a população hospitalar é maior e tende a aumentar, numa altura em que o número de hospitalizados é maior; e só quando foi necessário, à reabertura, só depois de na imprensa se terem levantado os clamores dos doentes, é que vem dizer que nada tem com as tricas dos médicos.
Isto excede tudo quanto podia pensar-se e conceber-se.
O funcionário procurou calar-me. Não há forma de me calar.
O funcionário, se tivesse aquele pudor que é necessário aos homens para ocupar um lugar daqueles, teria até feito com que eu tivesse os documentos que por intermédio do Ministério do Trabalho pedi, e não vinha com as espertezas saloias.
Eu pedi os orçamentos dos hospitais de Lisboa; que me digam quanto custa cada doente.
Tenho esclarecimentos de valor da capacidade e produtividade dêsse médico.