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Diário da Câmara dos Deputados
sem eu não teria necessidade de escrever a carta.
Depois de me ter sido negado o estudo e a apreciação do diploma que eu já tinha feito, declarei ao Sr. Presidente da República que me considerava demissionário, que não podia contar mais comigo, prometendo vir cá fora dizer que tinha encontrado obstáculos para que se fizesse uma obra de pacificação, e depois de ter dado conta dêste incidente, como devia, ao chefe do meu partido, na sua presença, já depois de a ter escrito, li a carta.
A carta, que acabo de ler, enviada para Belém pelo meu chefe de gabinete, deu em resultado que o Sr. Brito Camacho seguiu também para ali, e voltava algumas horas depois para me comunicar que, em boa verdade, as modificações à Lei da Separação seriam discutidas e apreciadas em Conselho de Ministros, e que eu poderia ficar seguro de que nada se resolveria de fundamental na vida do Ministério sem que eu fôsse ouvido.
Por êsse facto mantive-me no Ministério, e estou convencido de que fiz uma obra útil, que fiz uma obra necessária, e. que essa obra, acima de tudo feita com sinceridade e com fé republicana, tinha o merecimento da oportunidade e da justeza daquilo que eu concedia. Não concedi dedais porque não sou dos que entendem, nem pertenço a partido que assim o entenda, que nas horas de adversidade tenhamos de mendigar solidariedades e apoios e nas horas de glória tenhamos o direito de escravisar os que se encontram debaixo, e, porque assim pensava, não quis fazer senão aquilo que reputava indispensável, entendendo que se fizesse obra no sentido de destruir, com o desejo de agradar àqueles que querem o Poder como cajado para bater, então teria procedido mal, assim como a obra não teria resistência nem consistência.
Por outro lado se concedesse mais, e nisso estou inteiramente de acôrdo com os católicos, não teria concedido nada. Concedi o indispensável porque tive o cuidado de no relatório dividir o aspecto por que considerava a questão religiosa da seguinte forma: Primeiro, o que nesse diploma houvesse de essencial, princípios representativos de conquistas liberaes de que nenhuma democracia pode abdicar...
Leu.
Sr. Presidente, remetendo esta última parte para o Parlamento, para o Poder Legislativo, eu julgava prestar ainda, e estou convencido que prestei à República um alto serviço, porque era chamar para o terreno das nobres Jutas políticas toda a matéria prima católica, toda a matéria prima, que tendo crenças dentro de si, entendesse que neste campo tinha direito de as defender e que fazendo movimentos de opinião dentro da ordem e das leis tinha o direito de ser ouvida e respeitada.
Tinha, pois, o propósito de atribuir à vida política do País tudo quanto andava arredado e, digamos com franqueza, conspirando, pela confusão deplorável de duas causas numa só causa, duas causas: uma delas causa morta, causa perdida, mas que ia vivendo à custa da seiva que a outra encontrava no seio do País.
Sr. Presidente: dentro dêste propósito estou inteiramente convencido de que se abria uma era de conciliação, uma era de promessas a que há o direito de corresponder.
Quem, como eu, fazendo em nome de um partido o modesto trabalho que fiz e que afecto à Câmara, não é intangível.
Chegou o momento de preguntar ao Govêrno como é que tem correspondido às necessidades desta nova época de conciliação.
E necessário que o Sr. Presidente do Ministério afirme uma política, porque não pode, em matéria religiosa, estar constantemente a responder como respondeu ao ilustre leader dêste lado da Câmara, quando se referiu a um certo acto que se praticou em Viana do Castelo, em que participou o Sr. Presidente da República; como se isso fôsse uma resposta ao que se passou no Seixal, em que um acto religioso só foi permitido porque um outro administrador de concelho, não daquele em que êle se realizou, interferindo,, conseguiu que se realizasse êsse acto.
O Sr. Presidente do Ministério é uma figura política detestável, porque, emquanto todos os homens de Estado procuram viver no conceito da opinião, S. Ex.ª desinteressa-se, dando a impressão do contrário.
S. Ex.ª não tem quem o apoie; todavia, se a sua maioria procura substituí-lo por outro pior, Deus nos livre de tal.