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Diário da Câmara dos Deputados
Sr. Presidente: eu não tenho em mira atacar o Govêrno, pois o meu desejo é apenas referir-me a alguns pontos da declaração ministerial.
O Sr. Presidente: — Devo prevenir V. Ex.ª de que são horas de se passar à ordem do dia.
Vozes: — Fale, fale.
O Orador: — Sr. Presidente: o que é um. facto é que, numa hora grave para a administração pública, houve um movimento pouco vulgar no Ministério das Colónias, dir-se-ia até que parecia que os lobos tinham descido ao povoado.
Entraram pelo Ministério, e em todas as repartições, para ver se lá podiam encontrar alguma cousa extraordinária.
Isto passou-se numa sexta feira, em vésperas de um sábado, por isso que se dizia que na segunda-feira o Partido Democrático atiraria abaixe o Govêrno. É aproveitar emquanto é tempo!
Risos.
Estamos em vésperas de sábado e é preciso andar depressa!
Risos.
Se não há lugares, salvemos ao menos algum correligionário que haja por aí entalado.
E então para salvar a situação apontava-se o processo dum funcionário que o Ministro anterior demitira.
Venha de lá imediatamente o processo!
Risos.
O Sr. Ministro das Colónias (Vicente Ferreira): — Estou ouvindo V, Ex.ª corn muita atenção!
O Orador: — Eu não culpo V. Ex.ª Não foi V. Ex. a que foi baralhar tudo isto.
Risos.
Se Aponto à Câmara êstes pequenos casos é porque o entendo necessário para a história dos acontecimentos. É porque reputo, curioso saber-se o motivo de toda esta azai ama em volta de uma vaga que já se tinha dado há bastante tempo. E qual foi, afinal, êsse motivo?
É simples.
Foi porque o chefe do Gabinete do Sr. Ministro das Colónias não quis perder aquilo que julgava ser uma excelente conveniência.
Esta afirmação foi-me dada na Rua do Ouro por um correligionário de S. Ex.ª, naturalmente para poupar o seu comentário de que tal não poderia suceder, visto que já tinha um candidato.
Risos.
Eu não sei se o actual chefe do Gabinete do Sr. Ministro das Colónias é ou não meu correligionário; eu tenho tantos que nem os conheço.
O que sei é que, quando foi do Govêrno de Pimenta de Castro, êsse cavalheiro se salientou no Ministério do Interior pelos seus vivas ao ditador, naquela época em que os monárquicos gritavam no seu jornal: «general vista a farda; general ponha a espada!»
Risos.
Mas sei, também, que depois do 14 do Maio, o chefe do Gabinete do Ministro das Colónias era precisamente êsse cavalheiro dos vivas ao general.
Risos.
Sr. Presidente: eis, ràpidamente, a trajectória de toda esta questão.
Há factos que, considerados isoladamente, pouca ou nenhuma significação têm, mas que encarados em conjunto estabelecem uma base de doutrina a que podemos chamar a sciência aplicada.
Assim, é preciso ligar todos êstes factos, formar com êles um grupo de doutrinas para se poder ver como encapotadamente se pretende fixar um verdadeiro programa invisível de governação pública.
Há um facto que é já do domínio público: a demissão do Governador da Guiné que é democrático.
Como foi dada essa demissão?
Por deferimento do pedido de exoneração dirigido por êsse governador ao Ministro das Colónias, que o fez — di-lo S. Ex.ª — deveras contristado por se tratar de um indivíduo que tinha sido seu condiscípulo.
Perdoe-me S. Ex.ª, mas eu no seu lugar teria procedido doutra maneira para com o meu amigo e antigo condiscípulo.
Eu tê-lo-ia chamado, ter-lhe ia preguntado se êle tinha perdido a cabeça e, depois duma ligeira troca de palavras, demovê-lo-ia do seu propósito.
O Sr. Ministro das Colónias (Vicente Ferreira): — Ter-lhe-ia mesmo pedido desculpa!