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16 Diário da Câmara dos Deputados

bem como hão-de votar, nem mesmo seria eu, uma pessoa modesta, e sem recursos, que com a minha palavra os fizesse mudar de opinião; no emtanto bom é lembrar à Câmara o que a comissão de legislação criminal disse sôbre o meu projecto de amnistia, isto é, que êle tinha sido apresentado na hora própria, sendo igualmente bom lembrar à Câmara que é a primeira vez que na Câmara se apresenta um projecto de amnistia que vem beneficiar republicanos, não podendo, portanto, eu deixar de apoiar para o patriotismo da Câmara, que já recebeu as mais ilustres damas da sociedade lisbonense, de que já recebeu comissões do damas da mais alta sociedade, vestidas com as suas ricas e brilhantes toilettes, que vieram com os seus sorrisos atraentes implorar que dêsse o seu voto à amnistia, arrancando assim às prisões os seus maridos, os seus filhos, os seus irmãos e porventura os seus namorados. É certo que, desta vez, os republicanos se não viram assediados por essas comissões de gentilíssimas senhoras a quem uma vez mais eu presto a minha homenagem. Desta vez, se alguém andasse a implorar o voto para a amnistia, os Deputados republicanos teriam na sua frente, não essas -senhoras ricamente trajadas, mas as mães, as mulheres e filhas, pobremente vestidas, saídas das misérrimas casas que os marinheiros habitam; não teriam na sua frente um quadro atraente de mulheres lindas, mas um quadro de tristeza e de miséria, composto por pobres mulheres e crianças do povo, rastejando a seus pés, porventura trementes de fome e de frio, a pedir que dessem a liberdade aos marinheiros que, pelo seu amor à República, foram parar às prisões.

Não quero crer em tal diversidade de procedimento, e por isso faço votos para que a Câmara, pondo os seus olhos na bandeira verde-rubra da República, pondo o seu coração a bater em unísono com o coração da Pátria que nos traduz as necessidades da hora presente, juntando a sua alma à alma da República, que mais do que nunca agora precisa dos que lhe são queridos e dedicados, achando-os sempre prontos a por ela fazer todos os sacrifícios até a última gota do seu sangue, que a proclamaram em 5 de Outubro e que a salvaram em lá de

Maio e em Monsanto, que são os irmãos da guarnição do Augusto de Castilho e que no Barué se bateram ao lado do general Pereira de Eça, que à marinha legou a sua espada, que tanto brilho conquistaram para as suas fardas e para o prestígio da República e da Pátria faço votos por que a Câmara saiba dar o seu voto a um projecto de amnistia que vai beneficiar honrados e valentes marinheiros da Pátria e da República.

Tenho dito.

Vozes: — Muito bem.

O discurso será publicado na integra, revisto pelo orador, quando, nestes termos, restituir as notas taquigráficas que lhe foram enviadas.

O Sr. Pedro Pita: — Sr. Presidente: parece extraordinário, na verdade, que, tendo sido sôbre nós que recaiu a ocupação de preparadores, de orientadores, de dirigentes principais do movimento de 10 de Dezembro, sejamos nós que inter-vimos no debate para afirmar claramente que não pretendemos compartilhar dessa amnistia, que para nós não precisamos nem queremos, dando-se esta cousa curiosa é que, se votos de aprovação a amnistia tem neste momento, nenhum dêsses votos é nosso, não porque a não queiramos dar, mas porque, como já acentuámos, só não rejeitaríamos o projecto depois de apuradas as responsabilidades e de se provar não passar de uma calúnia a acusação que recaiu sôbre nós. De, modo que, pela atitude que já tomámos, ficam, uns e outros, absolutamente colocados na sua verdadeira situação: nós, procurando evitar que a amnistia se vote antes de bem apuradas as responsabilidades; os que nos caluniaram, desejando que a amnistia se vote para que se não possa falar mais no caso. Daqui por diante, a nossa atitude seria ridícula se nos mantivéssemos no mesmo pé. Não há ninguém que, depois da nossa atitude, depois de sermos vencidos na atitude que tomámos, deixa de se convencer que é um vil caluniador todo aquele que nos assacou a acusação.

Fica, portanto, bem assente que, pelo menos pelo que me diz respeito, só rejeito a amnistia por não estarem apuradas as responsabilidades. Fica provado,