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26 Diário da Câmara dos Deputados

hora em que a Câmara me disser que não mereço a sua confiança, mas só nessa hora.

O Sr. Cunha Leal (interrompendo): — V% Exa. dà-me licença?

E provável que o meu aviso tenha qualquer cousa de malcriado. Se a tem, peço desculpa, mas eu quis apenas dizer o seguinte: que numa dada altura alguém a meu lado tinha dado a outrem um conselho que eu me permiti relembrar a V. Exa., embora não supondo que as cousas tenham atingido a paridade dessa época. E devo dizer que existe uma grande dose de maleabilidade política a que nem os Ministros da Guerra devem ser estranhos. Que certa pessoa um dia me dera uma lição que ou não esqueci; foi a única cousa que eu quis recordar.

Nada mais.

O Orador: — Continuo a dizer que independentemente da votação do Sr. Cunha Leal, eu medito bem as minhas resoluções- e que nelas ponho sempre possível benevolência que é compatível com os regulamentos militares.

0Quando a Câmara me manifestar a sua desconfiança, sei o que me caberá fazer.

Tenho dito.

O orador não reviu.

O Sr. Presidente do Ministério e Ministro das Finanças (Álvaro de Castro): — Sr. Presidente: o ilustre Deputado Sr. Cunha Leal, com uma memória extremamente feliz, recordou um episódio da nossa vida política a que S. Exa. e eu estamos ligados e a que, infelizmente, já hoje se ligam, também, recordações muito magoadas e muito dolorosas, tanto para S. Exa. como para mim, porque nos lembra uma figura de republicano muito querida, o Dr. Júlio Martins.

Apoiados.

Já não posso reconstituir inteiramente o episódio que S. Exa. recordou. Lembro-me que no Conselho de Ministros em que o assunto foi tratado eu manifestei opinião no sentido que o Sr. Cunha Leal expôs à Câmara, ocultando o meu nome por uma circunstância política e para não desvendar o mistério.

Mas, Sr. Cunha Leal, eu apelo, também, para a sua memória para recordar

que o episódio de então não tem nada de semelhante com o de agora.

Neste momento não se trata de nenhum acto extra-regular ou extra-legal praticado por um Ministro no desempenho das suas funções.

Não sei bem, não posso averiguar, nem é talvez fácil saber, qual o episódio, qual o despacho, qual o acto do Ministro que deu lugar a esta campanha intensa, viva que se faz contra o Ministro da Guerra, procurando-se fazer dele um instrumento, talvez inimigo, contra a aviação do exército, contra a aviação republicana.

Não sei como isso chegou a formar-se, quando é certo que nem a exposição do Sr. Lelo Portela, nem a do Sr. António Maia, nem em tudo que tenho lido ou a que tenho assistido eu tenho encontrado qualquer acto do Ministro da Guerra contra o que se podem chamar as justas aspirações da aviação.

O facto a que o Sr. Cunha Leal aludiu é muito diferente. Tratava-se da prática, de um acto que não está regulamentado, de uma exigência que não é regulamentar

Em face disto seria absurdo manter uma atitude que era absolutamente contrária a todos os preceitos que regulam, as relações de oficiais.

Mas agora não se trata disso. Trata-se de actos praticados pelo Sr. Ministro da. Guerra no uso das suas atribuições, que-a Câmara conhece pela exposição feita. por S. Exa. em resposta aos Srs. Lelo Portela e António Maia, e pelos aplausos que ouvi não me resta dúvida de que a Câmara deu razão ao Sr. Ministro da. Guerra.

Sr. Presidente: já tive ocasião de dizer que a aviação, como aliás, todas as restantes armas, me merece também toda a simpatia, e compreende-se que assim seja visto que eu também pertenço ao exército de que essa aviação faz parte e tenho pela farda que visto o mesmo orgulho que tem qualquer daqueles que fazem serviço nos corpos. Também fiz serviço-militar e a todo o exército devo o meu respeito.

Se alguma vez na República tive de lutar com algum contratempo foi exactamente por eu, em ocasião bem difícil, querer levar ao máximo a dignificação do exército.