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18 Diário da Câmara dos Deputados

os cantoneiros: 3$ por dia! É claro que ninguém quere ser cantoneiro...

Também desejo referir-me a um excessivo compadrio que tem havido na distribuição das verbas. No momento próprio enviarei para a Mesa uma proposta.

Ainda hoje em Portugal existem concelhos absolutamente isolados do resto do país, naturalmente porque a sua influência política se não tem feito sentir junto dos poderes públicos.

É precisamente essa influência política que é necessário contrariar e êste é, sem dúvida, o momento próprio para o fazermos, incluindo na lei, que vamos votar, qualquer preceito terminante e decisivo.

Aceito, em princípio, a proposta do Sr. Ministro do Comércio, e aceito-a porque tudo estou disposto a aceitar, contanto que alguma cousa se faça em favor do estado desgraçado das nossas estradas, estado a que elas chegaram não só pela incúria dos Governos, mas ainda pelo uso de novos e pesados meios de locomoção para que elas não tinham sido preparadas, uso que nunca ninguém no nosso país se lembrou de regulamentar ou fiscalizar.

Durante a guerra, a França proibiu terminantemente a passagem de camiões por determinadas estradas cujos pavimentos não possuíam a resistência necessária para suportar o pêso e o atrito dessas pesadas viaturas.

Em Portugal, país em que a liberdade por vezes é por licença, nunca se impediu o livre trânsito de camiões pelas estradas, todas elas incapazes de resistir eficazmente aos efeitos de tais transportes.

Bom seria por isso que na nova lei alguma cousa ficasse no sentido de dar à Direcção das Estradas o poder de intervir neste assunto.

Sr. Presidente: terminando as minhas considerações, porque não quero demorar a discussão desta proposta, mando para a Mesa a minha proposta de aditamento, convencido de que nela se contém a única forma de reparar dentro de dois anos o estado em que se encontram as estradas do país.

Tenho dito.

O orador não reviu.

O Sr. Paulo Cancela de Abreu: — Sr. Presidente: estranho que o Sr. Ministro

do Comércio só tivesse tido a coragem de influir para que a proposta se discutisse em uma aberta que apanhou, provocada pela ausência do Sr.. Ministro das Finanças e do Sr. Velhinho Correia, que Deus permita seja longa, a fim de o país, ao menos, ficar aliviado mais uns dias da pavorosa sangria fiscal, que pretendem fazer-lhe.

Pena é que o Sr. Nuno Simões não saiba impor-se para que, antes de tudo o mais, o problema das estradas tenha uma solução eficaz.

A nossa rede de estradas, obra esplêndida de Fontes, Navarro e outros notáveis estadistas, foi uma das mais valiosas heranças que a República recebeu da monarquia, mas que tem sido depreciada e desprezada de tal modo pelo actual regime, que êsse valor quási por completo se diluiu, podendo bem dizer-se que hoje não temos estradas.

Apoiados.

Há dinheiro para roubos e escândalos de toda a ordem, para a voragem das missões ao estrangeiro, dos adidos, para os contratos ruinosos, para as partidas de foot-ball em Espanha, etc., mas não há verba para-reparar um quilómetro, um metro de estrada que seja!

Não percebem as altas capacidades da República que a solução do problema nacional se encontra na solução do problema económico, que êste se consubstancia essencialmente no desenvolvimento da produção e que nesta influi duma maneira decisiva a facilidade de comunicações e de transportes.

Nos Ministérios do Comércio e da Agricultura é que essencialmente está a chave da solução da crise nacional, sendo muito de estranhar que os respectivos titulares não saibam levar a êsse convencimento os 'seus colegas do Govêrno e o Parlamento,

Ainda há poucos dias o teórico ditador financeiro do Parlamento, em cujas mãos o Sr. Álvaro de Castro, como crasso e ignorante que é dêsses assuntos, se entregou, exclamou sem rebuço, quando a minoria monárquica reclamava a resolução do problema das estradas:

Primeiro impostos e depois estradas! E ficou muito contente com está espantosa revelação da sua capacidade de estadista!...