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8 Diário da Câmara dos Debutados

Sou incapaz, Sr. Presidente, de pôr nas minhas, palavras qualquer cousa que não seja um profundo sentimento de respeito por êsses homens que, na verdade, são dignos de respeito pelos serviços que têm prestado à Pátria.

Devo dizer que não pertenço ao número dos homens que têm a sensibilidade de macaco, ou que deixam o coração nas algibeiras.

Muitos apoiados,

O partido a que me honro de pertencer encarregou-me, por duas ou três vezes, de significar ao Sr. Ministro da Guerra a consideração que todos temos pelas suas qualidades de oficial, tendo-me encarregado novamente de lhe repetir que temos a maior consideração por S. Exa., assim como pelo Sr. Presidente do Ministério, mas isso não me inibe de afirmar que cremos ser impossível reunir na mesma pessoa, como sucede com o Sr. Ministro da Guerra, tantas faculdades para arranjar complicações.

O Sr. Ministro da Guerra, na verdade, tem arranjado complicações, sôbre complicações, talvez dentro de um critério de disciplina , militar, que se cinge perfeitamente ao espírito do regulamento, não o nego, mas que por isso mesmo tem originado e complicado conflitos.

Muito embora seja certo que não devemos esquecer os regulamentos, não é menos certo que não devemos esquecer os serviços prestados pelos aviadores.

Tenho a certeza absoluta de que, se Brito Pais e Sarmento de Beires tivessem conhecimento do que se está passando entre nós, gostosamente viriam colocar-se ao lado dos seus camaradas.

Estamos, Sr. Presidente, de facto, em presença de uma sociedade absolutamente indisciplinada, em que ninguém obedece às leis.

Haja vista, igualmente, a magistratura que se encontra numa situação que, na verdade, se não compreende.

Torna-se necessário restabelecer a disciplina, para que haja ordem na sociedade.

Mas estará o Ministro dentro dos princípios da verdadeira disciplina?

É possível!

No emtanto, mal empregada boa vontade, se ela nos há-de conduzir sempre a êstes resultados. Tantas são as complica-

ções que surgem, umas sôbre outras, que não podemos deixar de julgar que o pensamento do Sr. Presidente do Ministério e do Sr. Ministro da Guerra é cair.

Na verdade, o procedimento do Sr. Ministro da Guerra nesta questão foi de molde a irritar aqueles bravos rapazes que são aviadores.

S. Exa., exercendo uma acção mais policial do que propriamente política, arranjou uma situação em que todos nós, mesmos os que desejamos elevar ao mais alto grau o princípio da ordem e da disciplina, temos de dizer, em nome do mais elementar princípio de humanidade, que o Sr. Ministro da Guerra não tem o direito de sacrificar a existência de dezassete valorosos rapazes!

Vivos apoiados da minoria nacionalista.

Não há nada que possa convencer-me de que os homens que compõem o Govêrno conseguirão dormir descansados se da acção do Sr. Presidente do Ministério e do Sr. Ministro da Guerra resultar o sacrifício inútil da vida dos aviadores. Não sei que prazer doentio leva S. Exas. a complicar a situação. Faço inteira justiça às suas intenções, mas a verdade é que o Sr. Ministro da Guerra está hoje em face de um problema que se impõe a todos como uma questão do humanidade, Falo com toda a sinceridade! Não ponho um problema; faço uma pregunta. Essa pregunta é a seguinte:

Se os dezassete rapazes que estão no campo da aviação não se renderem, o Sr. Presidente do Ministério e o -Sr. Ministro da Guerra ordenam que sejam fuzilados, mandam despejar as balas de 3:000 homens sôbre êles?

Dir-se-há que a questão é muito complicada.

Quem a pôs nesse pé? Fomos nós, oposição, dando ao Govêrno o nosso apoio em questões de ordem pública?

Fomos nós, oposição, que temos sempre procurado conduzir as cousas por maneira a evitar soluções que repugnam à nossa consciência e à sentimentalidade portuguesa?

A questão é demasiadamente grave para que se possam atribuir às minhas palavras quaisquer intuitos políticos. Não os tenho e, falando em nome do meu partido,