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6 Diário da Câmara dos Deputados

superiores interêsses das instituições republicanas.

Ô orador não reviu.

O Sr. Cunha Leal: — Variadíssimas vezes, nesta Câmara dos Deputados, nos temos revoltado contra o que chamamos os excessos dê linguagem dos Deputados de todos os matizes.

Quando às vezes se fala aqui em venalidades, em administração ruinosa e criminosa, quando se fala nos Poderes Públicos, como sendo encobridores de criminosos, os protestos dos Deputados são exaltados, e temos a impressão que de facto alguma cousa de anormal sé passou na administração pública, e que são sinceros os protestos para se entrar no bom caminho, pelo que só temos que nos honrar, pois queremos conhecer os factos para o efeito de se entrar francamente no caminho da administração severa dos dinheiros do Estado.

Ora eu tenho a impressão de que nunca o compadrio foi tam grande, de que nunca à corrupção foi iam profunda como agora, e tenho mais a impressão de que os representantes do Estado não querem a ordem, não querem a disciplina dentro da sociedade portuguesa; não querem, em suma, a severa administração dos dinheiros públicos.

Vozes: — Não apoiado!

O Orador: — Fui das pessoas que nesta Câmara trataram da administração da província de Angola, e trouxeram ao conhecimento do público vários factos pouco próprios de honrar essa administração.

Tive o desgosto do constatar que a Câmara dos Deputados havia pôsto a coberto, com um direito que imo a honrava, a administração do Sr. Norton de Matos, mas nunca tive dúvida da ruindade dessa administração e da sua cobertura, pois eu sabia muito bem que o Sr. Norton de Matos tinha gasto tanto, tinha comprado tanto, tinha, corrompido tanto na província de Angola, que não havia maneira de acabar com os admiradores que S. Exa. linha conquistado com a sua corrupção. Mas eu compreendia também que se tinha gasto tanto na compra dos seus admiradores, a tanto por cabeça, que, afinal, não havia dinheiro que chegasse para continuar a comprar.

Sabia perfeitamente que o Sr. Norton de Matos seria contra aqueles que fossem contrários à sua administração, e constatei que corria de boca em boca que uma pessoa proclamava que o Sr. Norton de Matos levara Angola à ruína, e, que essa pessoa era o actual Sr. Presidente do Ministério.

Em todo o caso, o Sr. Alfredo Rodrigues Gaspar entendeu por bem não dar razão ao boato que corria.

O Sr. Norton de Matos tinha praticado em Angola factos graves, cousas que deshonravam uma administração pública. Mas não obstante, a maioria conservava se cega aos meus ataques, conservava-se surda perante as minhas acusações, cobrindo o Sr. Norton de Matos, legando-se a êle, como um homem vivo se pode ligar a um cadáver.

E o Sr. Norton de Matos, obtida uma estrondosa vitória dentro do Parlamento, continuou a administrar.

Aqui do Lisboa administrou Angola; daqui mudou as suas directivas para Angola e depois para Londres, com o intuito evidente de voltar a administrar Angola.

Houve apenas um português que garantiu que o Sr. Norton de Matos não voltaria a administrar Angola. Êsse português fui eu, que conhecia tam bem como o Sr. Rodrigues Gaspar a administração daquela província.

S. Exa. vai para Londres; procura dinheiro, procura resolver a situação com os empreiteiros, manda telegramas para lá a dizer que voltará a administrar a província, e a êsse respeito vem hoje na Época um telegrama do Alto Comissário, com a data de 24 de Abril dêste ano.

A certa altura o Sr. Norton de Matos resolveu fazer o escândalo do novo empréstimo com, a Companhia dos Diamantes, caso êste que o Govêrno anda estudando, e sôbre o qual eu espero ainda ser esclarecido durante esta sessão legislativa.

Ora, sendo o empréstimo contraído em condições que não honram de modo algum a nossa província de Angola, S. Exa. reconhecia que êle não podia continuar a viver ali.