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Sessão de 31 de Julho de 1924 7

O certo é que o Sr. Norton de Matos, não se sentindo já bem em Angola, pediu o lugar de embaixador em Londres, e o Govêrno concedeu-lhe êsse cargo. Houve várias pessoas que se revoltaram contra semelhante facto.

Esta questão teve um aspecto público e um aspecto particular.

O aspecto particular é aquele que respeita ao barulho havido nos grupos políticos, sobretudo no Democrático, acerca dessa nomeação. Consta que as pessoas que mais se revoltaram contra êsse facto, classificando-o de ignominioso, foram os Srs. Rodrigues Gaspar e Vitorino Godinho, actual Ministro dos Negócios Estrangeiros.

O Sr. Rodrigues Gaspar disse aí à boca fechada, e certamente o Sr. Domingos Pereira o não oculta, que o Sr. Norton de Matos queria levar Angola à ruína. S. Exa., contudo, apresenta aqui a opinião, que a pouco e pouco se vai transformando, até se fixar no conceito de que o Sr. Norton de Matos era tam bom governador como certamente vai ser um bom embaixador.

É preciso dizer que a reviravolta que no Sr. Rodrigues Gaspar se operou me causou profunda surpresa. E vem a propósito contar que um íntimo amigo meu, o Sr. Vergílio Costa, falando com um dos mais categorizados Deputados da maioria, que teve já convite para ocupar elevadas posições na nossa administração colonial, ouviu dêsse Deputado que o Sr. Rodrigues Gaspar tinha remorsos, de não ter exercido contra o Sr. Norton de Matos, quando esteve na pasta das Colónias, aquela acção que podia ter exercido, o que não fez, dadas as circunstâncias que revestia o exercício da função do Sr. Norton de Matos. Quere dizer, S. Exa. reconhecia que a acção do Sr. Norton de Matos era perigosa para os interêsses públicos, mas não teve a coragem de proceder, porque o Sr. Norton de Matos exercia adentro do Parlamento e da República uma posição quási que intangível.

Era a explicação que se dava, pelo menos, para as palavras tam violentas do Sr. Rodrigues Gaspar, e para as suas reticências não monos violentas, porque nos recordamos que quando S. Exa. falou, mais do que as suas palavras falaram as suas reticências.

Cai o Govêrno do Sr. Álvaro de Castro; sobe o Govêrno do Sr. Rodrigues Gaspar, e, ao que me consta, ainda não estava marcado o dia para o Sr. Norton de Matos apresentar as suas credenciais. Mais me consta ainda que os Governos Português e Inglês tinham acordado em se fazer a apresentação das credenciais no mesmo dia. O Rei de Inglaterra não podia receber o Sr. Norton de Matos senão no dia 11 ou 12.

O Govêrno anterior, contudo, deixou o encargo de fixar êsse dia ao Govêrno posterior, presidido pelo Sr. Rodrigues Gaspar, o que prova que êste podia muito bem ter deixado do marcar êsse dia.

Seguiu-se a apresentação do Govêrno do Sr. Rodrigues Gaspar nesta Câmara, e nós, como oposição, não quisemos desde logo fazer sentir ao Sr. Rodrigues Gaspar o que podia haver de irregular no seu procedimento, que, na verdade, não é muito próprio, procedimento que não dignifica nada a República.

O Sr. Rodrigues Gaspar, no emtanto, apresentava-se no Govêrno como sendo um homem muito diferente do que fora na oposição, com respeito ao Sr. Norton de Matos, embaixador.

Se bem que nós tivéssemos lavrado o nosso protesto, em obediência aos interêsses da Pátria e da República, a administração da província de Angola vai estoirando por todos os lados, estoirando por todas as costuras.

Têm-se dado várias complicações financeiras, estoirando a administração por todos os lados, não havendo dinheiro para liquidação de certos contratos feitos pelo Sr. Sousa Machado, pois a verdade é que os créditos que havia tinham pouca garantia, pelo motivo das pessoas que tinham sido credoras por êsses créditos.

O que é um facto é que, a certa altura, e já de Londres, o Sr. Norton do Matos enviou um telegrama para Angola, dizendo que era preciso absolutamente levar a firma Sousa Machado & C.a a fazer essas liquidações, sob pena de lhe serem penhorados todos os bens.

Porém a firma Sousa Machado & C.a respondeu dizendo que, se tal ordem não fôsse derrogada, só veria na necessidade de publicar toda a correspondência trocada entre a firma e o Alto Comissário Norton de Matos,