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22 Diário da Câmara dos Deputados

O Sr. Carlos Pereira: — Apesar de existir êsse sistema na Rússia, ela abasteceu-nos de trigo.

O Orador: — Mais produziria, se não fôsse êsse sistema.

De resto trata-se de saber, se com êsse regime ela produz agora mais do que produzia noutros tempos.

Apoiados.

Interrupção do Sr. Carlos Pereira que se não percebeu.

O Orador: - V. Exa. não tem factos para basear as suas afirmações.

O Sr. Carlos Pereira: — O pão que V. Exa. come é de trigo que vem da Rússia. E V. Exa. não agradece isso.

O Sr. Afonso de Melo: — Se vem o trigo da Rússia, é porque a república soviética já não existe na sua pureza.

O Orador: — Desgraçados trabalhadores na Rússia.

Àparte do Sr. Carlos Pereira.

Vinha eu dizendo que a fórmula socialista tomou um aspecto scientífico com as doutrinas de Carlos Marx.

Cada qual está no seu campo, defendendo as suas ideas, mas é necessário verificar se os princípios assentam na lógica...

Apoiados.

Não havendo lógica, é necessário que a defesa dessas ideas acabe de vez em Portugal, para honra da Câmara e proveito do País.

Apoiados.

O Sr. Velhinho Correia: - V. Exa. dá-me licença?

A propósito da interrupção que fiz há pouco, devo explicar quais são as minhas ideas acerca do regime de propriedade.

Eu perfilho as doutrinas sôbre o regime da propriedade que foram proclamadas no congresso do Partido Republicano Português, com certas restrições à propriedade individual.

O Orador: — A lei que existe é uma monstruosidade, como outra monstruosidade é a que vamos fazer agora.

O Sr. Carlos Pereira: — Isso não é discutir, não é nada.
Representa uma vergonha o que se está fazendo. Já se começa a saber o que se quere.

O Orador: — Dêste lado, sabe-se sempre o que se quere.

Mas então pregunto: será porventura a forma socialista? De maneira alguma ela pode ser aceita.

Não obstante o carácter scientífico que lhe imprimiu Karl Marx, mau grado as tentativas geniais dêsse homem, o certo é que a propriedade colectiva jamais poderá ser uma forma definitiva de organização social. As experiências que se têm feito nesse sentido provam-no exuberantemente.

Àparte do Sr. Carlos Pereira que não se ouviu.

O Orador: — Os organismos colectivos, como os individuais, quando sentem aproximar-se-lhes a queda têm sempre movimentos de defesa instintivos. É certo que o poder multiplicador da fortuna, pelo desenvolvimento da mecânica, confirmou até certo ponto a previsão de Marx mas êle esqueceu-se, apesar da sua formidável inteligência, de que as próprias sociedades sabem cortar e rasurar êsse multiplicador das fortunas e que elas têm também o espírito de conservação, imposto pelas necessidades sociais.

O Sr. Ferreira da Rocha: — A única razão scientífica em que se fundava Karl Marx era precisamente a concentração da propriedade.

O Orador: — Diz V. Exa. muito bem. Nós temos de navegar noutro sentido.

O Sr. Presidente: — Comunico a V. Exa. que deu a hora de se passar ao período de antes de se encerrar a sessão.

O Orador: — Se V. Exa. me permite, fico com a palavra reservada.

O orador não reviu.

O Sr. Presidente: — Fica V. Exa. com a palavra reservada.