O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

Sessão de 7 de Novembro de 1924 19

quanto há de mais reduzido. Não tenho gastos de redacção e quanto a tipógrafos apenas tenho dois, que foram os primeiros a fazer-me a proposta de lhes pagar 10 em vez de 20, desde que lhes permitisse trabalhar para fora no interregno do serviço jornalístico. Assim só acabaram as greves, tenho o semanário feito a horas e tiro de interêsse perto de 2.000$. Para isso não preciso de fazer chantage nem inserir publicações pagas. Nunca ninguém me comprou ou fez pressão sôbre mim.

Tendo andado à bulha com meio mundo, estou vivo e são. Dotado dum temperamento de revolta, nunca calei a minha voz de protesto nesta terra em que quem não anda de rastos conhece a miséria. Nunca engraxei as botas a ninguém e levantei sempre bem alto a minha cabeça. Tenho 6õ anos e estou ainda como os senhores me vêem.

Tenho dito.

O orador não reviu.

O Sr. Leonardo Coimbra: — Sr. Presidente: mal julgava eu que teria de passar a atmosfera desta Câmara, da alta seriedade e do espírito quási trágico que sôbre ela pairou na sessão de ontem, para o que durante a sessão de hoje se desenrolou.

Acabamos de assistir a uma longa e demorada exposição em que o orador que me antecedeu se limitou a contar aneedotas da sua vida, em vez de responder duma maneira clara e terminante, como lhe cumpria se prezasse a honra alheia, às afirmações ontem aqui produzidas.

Que nos interessa saber se S. Exa. é rico ou pobre, se ganha pouco se muito, ou se nas Faculdades ou liceus lá de fora se dão tantas horas de latim, de grego ou de história medieval?

Não faço a nenhum membro desta Câmara a ofensa de o supor capaz de desconhecer o valor do ensino das humanidades. Todos nós o sabemos. O próprio Sr. Herriot em França o reconheceu. Evidentemente que se o homem começa por conhecer a natureza, pensando e filosofando, êle têm forçosamente de conhecer mais tarde os fenómenos da sua consciência.

Todos nós sabemos há muito que a tradição histórica, que a alma intelectual e
moral de ama nação têm, como principal factor do desenvolvimento e esclarecimento, as sciências do espírito que estão nas Faculdades de Letras. Todos o sabíamos. Mas o que tratava era de saber se sim ou não um Deputado da Nação escreveu os insultos que aqui foram lidos, se sim ou não procurou enxovalhar a bandeira nacional, se sim ou não escreveu que esta Pátria já não merece a sua independência!

E para estas preguntas não é resposta dizer-se que a Pátria não merece ser independente porque tem um filósofo chamado Leonardo Coimbra. A ironia, que nem graça tem, porque não sou eu que me chamo génio da raça nem filósofo, porque essas vaidades por que todos passamos a idade as faz desaparecer, porque sou eu próprio que digo que muito desejo saber e que quási nada sei — essa ironia, essa chalaça grosseira não responde a acusações como estas.

A explicação dada pelo Deputado visado foi de que, realmente, insulta por vezes, mas em momentos de irritação. Eu pregunto, Sr. Presidente, se um homem perto dos 70 anos ou dos 60, tem o direito de dizer que fala para um país inteiro e de julgar todos os seus homens, afirmando simultaneamente que em momentos de fúria insulta sem motivo. Eu pregunto se pode ser professor um homem que se volta para os seus alunos e lhes diz: — Rua! Não os admito nesta sala! — Eu pregunto se isto é maneira de mostrar que o ensino não é só ensino, mas também educação, e que a primeira qualidade da educação é não a ironia, a chalaça, mas a verdade que eu uso, criando, com efeito, qualidades de sociabilidade, porque, se a Pátria Portuguesa atravessa uma crise perigosa, é exactamente pela falta de qualidades de sociabilidade, de solidariedade humana.

Então um Deputado afirma aqui que a única cousa que lhe falta para ser um grande homem no nosso país é ser ladrão?! Vejam V. Exas. se é lícito que aqui, onde cada um deve ter a noção da responsabilidade de falar perante os olhos da Pátria, de representar a vontade nacional, alguém venha fazer tal afirmação, que amanha os jornais estrangeiros hão-de reproduzir, dizendo que a opinião expressa nêste Parlamento é de que, para