O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

18 Diário da Câmara dos Deputados

ao ano. Seria pouco, mas isto de moagem, que ou ouço tantas vezes que dá mundos e fundos, o que não só verifica para o pequeno moageiro, porque eu conheço bem êste assunto, só dá muito para a grande moagem que tem conluios com a imprensa e com os políticos. Mas veio a guerra com a sua febre de negócios e de alta de preços, e dêsse modo foi que com grande pasmo meu vi um dia chegar ao pé de mim o Sr. Deputado monárquico Duarte Silva e oferecer-me pela minha parte 155 contos. Eu não queria acreditar, mas êle disse-me que estava tudo tratado, só faltando a minha resolução, e então eu não olhei para trás o acoitei a oferta.

É certo que não fui pedir licença ao Sr. Leonardo Coimbra, mas parece-me que para isso não era preciso licença do clero, nobreza ou povo.

O que eu sei de moagem é devido ao meu estudo de curioso.

Nunca fui dos corpos gerentes.

Recebi os 150 contos que gastei desta forma: fiz uma casa em Aveiro, onde habito, que me importou em 72 contos.

As contas lá estão. Quando vier a revolução, antes de me armarem a guilhotina, podem ir verificá-las. Não roubei nada!

Fiz a casa porque dela necessitava, dada a crise de habitações.

Veio o meu filho de Paris e disse-me que eu é que lhe poderia emprestar algum dinheiro para os seus negócios. De mim para mim pensei que seria, provavelmente, dinheiro perdido.

Risos.

Então resolvi dar-lhe 35 contos, quantia que lhe pertenceria por minha morte, estabelecendo, porém, com êle o seguinte acordo: pagar-me o juro de 8 por cento, bem pequeno na actualidade, segundo me parece, em livros, visto que êle tem uma, livraria, e eu gosto muito de livros! Estou continuamente a adquirir livros.

Assim o juro fica-lhe a 5 por cento ou 6...Êle ganha e eu também.

Êle paga-me ainda de outra maneira; e com isto é que o Sr. Leonardo Coimbra vai ficar com a boca tapada. Paga-me as despesas de viagem quando vou ao estrangeiro. Paga-me o comboio para Paris quando lá vou e dá-me comida de graça. Também eu lha dou de graça quando êle cá vem. E como êle tem muitos amigos, ou
durante o tempo que lá estou ando numa pândega rasgada.

Risos.

Vejo-me atrapalhado a envergar o smoking e a casaca. Um tormento! Também já lhe disse que não voltaria lá com smoking e casaca. Com smoking ainda vá, mas com casaca não porque custa muito cara.

Risos.

Embora fale francês, vejo-me muitas vezes atrapalhado também para me entender com as mesdames, porque elas têm umas cousas que não são cá muito para mim, umas esquisitices com que já não mo entendo.

Risos.

Então cometo a minha gaffe. Lembro-me agora de que encontrando me, em casa de uma madame, bastante distinta e que há pouco foi condecorada com a Legião de Honra, e preguntando-me ela, em francês, se eu estava aborrecido, respondi-lhe, julgando que ela me prejuntava o contrário: oui, oui madame'

Então ela pôs-se a rir, e riu tanto que até chorou. Minha nora, que é francesa e que estava presente, é que me disse, também a rir-se, que a pregunta da madame fora se eu estava aborrecido. Se bem que saiba francês, entendi o contrário.

Janto fora, almoço fora, passeio de automóvel, visito museus, etc.; e, finalmente, não gasto nada. Vou duas vezes por ano a Paris e não gasto nada.

Devo também dizer que tenho o defeito de ser económico.

Não tenho dinheiro para extravagâncias. Não as faço.

Dir-me-hão: se comprou a casa por 72 contos e deu 35 contos a seu filho, de que é que vive?

Tenho 30 contos em acções da Nova Empresa de Moagem e meia dúzia de contos ao canto da caixa, para os utilizar quando me puserem fora dó lugar de professor da Faculdade do Letras.

Tenho ainda o meu jornal, que me dá interêsse, mesmo muito interêsse, cousa entre 1.500$ e 2.000$ por mês. É, como V. Exas. vêem, uma maravilha, principalmente para aqueles jornalistas que para o serem precisam de estar às ordens da Moagem.

Eu não depondo de ninguém. Depois as despesas do meu semanário são tudo