O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

Sessão de 7 de Novembro de 1924 17

A França tem nas Faculdades de Letras, só para o ensino de história, 11 cadeiras. A história Já Revolução Francesa constitui só por si uma cadeira.

Isto é que pode chamar-se ensino superior.

Em Portugal o ensino universitário resume-se ao curso dos liceus, que deixa os alunos absolutamente ignorantes.

Sr. Presidente: o Sr. Leonardo Coimbra procurou irritar toda a gente contra mim.

Até falou no Sr. Brito Camacho.

Eu, como disse já, ataquei muito o Sr. Brito Camacho, mas quando chegou a hora em que entendi dever deixar de o atacar, não houve nada que me obrigasse a fazê-lo.

Chegaram a fazer-me propostas de dinheiro, convidando-me a ir até Moçambique para colhêr elementos para êsse ataque. Recusei.

Eu não sou instrumento da má vontade de ninguém, e só trato das questões quando as conheço e é necessário para o bem no país.

Sr. Presidente: o Sr. Leonardo Coimbra citou três ou quatro disparates que me atribuiu.

Pois eu podia atribuir-lhe e citar trezentos, quatrocentos ou mais.

Risos.

Como êle escreve e fala todos sabem.

Êle hoje já escreve melhor, graças a mim.

Deve-me êsse grande favor; devia beijar o chão onde ponho os pés porque hoje está falando e escrevendo melhor.

Eu gosto em todas as questões de pôr o preto no branco, e assim vou escrever um livro, não porque tenha má vontade à Faculdade de Letras do Pôrto ou ao Sr. Leonardo Coimbra, mas para que todos conheçam as cousas da nossa instrução. Já escrevi um livro referindo-me à instrução do povo, à instrução primária e secundária, e agora vou escrever outro sôbre instrução superior, e mostrarei o que ela é na nossa terra e lá fora.

Hei de pôr o preto no branco, como disse.

O Sr. Leonardo Coimbra a tudo se quis referir, quanto a mim.

Até meu filho foi trazido para esta Câmara, e afinal para dizer mais falsidades.

Sr. Presidente: o que é certo é que tenho a honra de ter corrido as prisões do nosso país, desde o tempo da monarquia, mas nunca fui preso por ladrão.

Os ladrões nunca são presos, e se eu fôsse ladrão seria talvez o primeiro homem desta terra, porque os ladrões são todos glorificados.

Sr. Presidente: estou falando nesta Câmara e estou dizendo as verdades, quando julgavam que eu, como já disse, ora um patrazana que não sabia falar.

Estou falando, talvez mal, mas se eu fôsse um ladrão todos me glorificavam e eram até capazes de me sentarem bem alto.

Diriam então talvez que eu falava muito bem, até, e que tinha a linguagem do Sr. Leonardo Coimbra, a linguagem que êle tem, futurista.

Risos.

Quando um dia nós fôssemos transportados para o planeta Marte, talvez pudéssemos dizer: cá está a linguagem do Sr. Leonardo Coimbra.

Falou também o Sr. Leonardo Coimbra em meu filho, talvez para me indispor com êle, o que admira, porque êle é todo concórdia, é todo amor, só abre a boca' para falar em amor, mas... vai dando a sua facada por detrás! Ao passo que eu quando chamo burro a alguém, faço-o com a minha responsabilidade, êle di-lo nos cafés, sem responsabilidade alguma. Mas eu já disse no meu jornal que na altura dêsses factos relacionados com meu filho, êste não estava de mal comigo. Mas podia estar, que não queria dizer nada!...

Falou também aqui em viagens ao estrangeiro, como se quisesse referir-se às minhas e eu fôsse rico. Vou já dizer qual a origem da minha fortuna e das minhas viagens. Podia não dizer, mas o povo tem o direito de saber qual a origem de muitas fortunas de homens públicos, e por isso vou dizê-lo.

Eu tinha uns 10 contos de réis. Meu irmão tinha uma pequena fábrica de moagem, é um dia veio ter comigo pedindo que lhe acudisse numa aflição. Eu devia favores a meu irmão, pois foi êle que me educou, visto que sou filho do povo, e por isso dei-lhe os 10 contos meus e arranjei-lhe mais 10. Êle equilibrou-se com isso e foi andando com a sua fábrica, recebendo eu apenas um juro de 6 por cento