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Sessão de 7 de Novembro de 1924 13

Os homens cobrem se de ridículo sem o quererem.

Tratava-se de um simples professor como eu, porque apenas um simples incidente o fez director de Faculdade. Mesmo um director de Faculdade tem poucos poderes.

Pois diz-se meu superior hierárquico!

Só se é por ser génio da raça e eu não...

Então pusesse as coisas nos seus termos, dizendo: — eu sou génio da raça, e por tal tenho o direito de montar no seu cachaço!

Mas não monta, porque eu não deixo, nem o reconheço como génio de cousa alguma.

Agora, meu superior hierárquico, sendo professor como eu, ai! que temos conversado!

Mas se eu tivesse dito mal dos meus superiores hierárquicos, e me quisessem ir à mão por isso, o remédio era não mo aplicarem o regulamento disciplinar, mas chamarem-me aos tribunais.

Mas aos tribunais não me chamam, porque sabem que eu lá sei fazer valer a minha razão, pois que nunca fui absolvido sem fazer valer a minha razão, como a tantos outros tem sucedido.

Assim, uma vez, um homem de Aveiro, que o Sr. Manuel Alegre conheço muito bem, um homem que roubava toda a gente o que até roubava os mortos, porque uma vez mandou desenterrar um morto para o roubar, teve a coragem de me chamar aos tribunais, por eu ter praticado o crime de lhe ter chamado ladrão, bêbedo o burro.

Quando cheguei ao tribunal e os homens de leis me interrogaram, disse tudo o que sabia, mas provando tudo, e o homem teve de pagar as custas e selos do processo, que passaram dum conto déreis.

Ora, suponho que isso hoje custa muito mais, e, porque eu estou sempre do lado da verdade, é que não têm vontade de me chamar aos tribunais.

Ainda neste ponto de superioridade hierárquica há esta parte admirável: os rapazes fundaram com êle um jornal (lá está na sindicância!) para me chamarem quantos nomes havia, mas não assinavam, não tinham essa coragem. E, Srs. Deputados, que vão chamar-me aos tribunais ou ao tablado da opinião pública, Cio que dizia que me perdoava, somente não mo perdoando o ou dizer mal da Pátria (a Pátria!..., e enchia a boca com esta palavra como se fôsse mais patriota do que ou; naturalmente vai mandar um peru a cada cidadão pobro desta Pátria (Risos) a Pátria que êles pregaram num atoleiro!...) mas êle e os outros do seu jornal injuriavam-me, mas não subscreviam a injúria.

Ah! Não é jornalista quem quere! Eu sou um jornalista que pego na injúria e ponho-a no jornal com o meu nome para tomar a responsabilidade. A injúria não faz mal aos jornalistas, porque ela só faz mal desde que não sirva para salientar a verdade. O resto é que não presta; o há tantos como êles! Sim, porque se há alguns bons jornalistas, há para aí cada um... Mas a culpa é dos senhores, que na insensatez da sua verdade não separam o trigo do joio.

Êsses meninos, porém, injuriaram-me o eu defendi-me. Pregunto: também eram meus superiores hierárquicos?! Então porque não se moveu processo contra mim? Tinha até muito prazer nisso, porque não me importa sair ou ficar na Faculdade de Letras. Não é do lá que vem o meu valor.

Os Srs. já me puseram fora do exército, o que nessa altura me importou, um pouco, porque estava arriscado a morrer de fome; mas hoje não me importa que me ponham fora do meu lugar—e já vou dizer qual a origem da minha fortuna.

Mas um processo contra mim porque injuriei os alunos!?... Temo que os Srs. vão continuar na anarquia em que temos vivido.

Numa ocasião, por falta de professores, fui obrigado a reger cinco cadeiras, falando cinco horas a seguir. Não podia ser. Ao professor só deve ser dada uma cadeira, porque só numa pode ser profundo. Doutra forma seria um escândalo que um professor tivesse só duas horas de serviço por semana, porque a sua lição é uma hora é a cadeira tem duas lições por semana.

Noutros países isto é bem compreendido, porque o professor precisa estudar muito mais do que o aluno.

Os que me acusam querem dar-me por incompetente, quando eu estudo História desde os doze anos do idade, porque