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8 Diário da Câmara dos Deputados

Requeiro que o projecto do Sr. Baltasar Teixeira entre em discussão logo após a votação dos três projectos dados para ordem do dia.

O orador não reviu.

Foi aprovado o requerimento.

ORDEM DO DIA

O Sr. Presidente: — Continua no uso dá palavra o Sr. Homem Cristo.

O Sr. Homem Cristo: — Falou o Sr. Leonardo Coimbra na sua popularidade entre os estudantes.

Os factos vão desmenti-lo em tudo.

Quando se deu o incidente entre mim e alguns alunos da Faculdade de Letras, um jornal do Pôrto escreveu um primeiro artigo contra mim.

Os alunos da Faculdade de Medicina e outros alunos manifestaram-se a meu favor e publicaram uma moção protestando contra a atitude do Sr. Leonardo Coimbra.

Mas há mais: a direcção da Associação dos Estudantes do Pôrto, onde também tem alguns amigos o Sr. Leonardo, manifestou-se contra mim.

A direcção foi levada a manifestar-se contra mim.

Imediatamente reuniram os estudantes do Pôrto, de todas as escolas, e demitiram a direcção, nomeando outra.

Essa direcção veio depois dizer nos jornais que era completamente estranha à questão.

Dá-se pois o contrário do que aqui disse o Sr. Leonardo.

Quiz fazer ver à Câmara um caso verdadeiramente único nos académicos portugueses; é que todas as Faculdades e escolas costumam acompanhar a revolta duma delas. E o contrário justamente se deu com o meu incidente. O que digo não é para iludir a Câmara, são factos comprovados, que estão relatados nos jornais do Pôrto.

Disse S. Exa. que eu alcunhava de «garotos» os estudantes.

Garotos chamava eu aos que o eram, porque ainda hoje o são.

Não quero dizer que três, quatro ou cinco, a que chamei «garotos», sejam todos os estudantes.

Em todas as classes há garotos.

A carta que eu escrevi!

Escrevi uma carta ao Sr. Augusto Nobre — eu podia, também, chamar-lhe doutor, neste País em que isto de ser doutor é uma história — e porque é que o Sr. Leonardo Coimbra não a leu aqui? Fez bem mal, tanto mais que no meu semanário a tal várias vezes o autorizei.

Eu conheço perfeitamente toda aquela manobra da Faculdade de Letras. Conheço e conheço muito bem, porque eu não nasci ontem; não sou um menino tara ingénuo como isso, como, por exemplo, me quiseram fazer na última sindicância, em que eu faço o papel de parvo o um outro professor o de culpado. E porquê? Porque eu sou duro de roer. Mas ou repeli energicamente todos os elogios do sindicante, habituado como estou a assumir inteiramente a responsabilidade das minhas palavras e dos meus actos.

Logo que conheci a manobra urdida pelo Sr. Leonardo, o mesmo Sr. Leonardo da Póvoa e do Liceu Rodrigues de Freitas, ou verifiquei que havia um dêstes dois objectivos: ou vexar-me perante os alunos, ou pôr-me fora da Faculdade.

Eu bem sei que não é êste o logar próprio para apreciar uma sindicância. Não fui eu, porém, quem abriu o precedente,

O Sr. Leonardo teve a má lembrança de a trazer para aqui; eu não tenho mais do que acabar e aclarar o que o Sr. Leonardo disse. Também não é no Parlamento que só aprecia e discute o jornalista, e no emtanto o Sr. Leonardo preferiu vir a esta Câmara referir-se a artigos isolados do meu semanário, a pegar na pena e, na imprensa, rebater as minhas afirmações.

Uma vez, pois, que a sindicância foi aqui trazida, eu tinha de me referir a ela.

Mas vamos à Faculdade de Letras.

A indisciplina que ali lavra é enorme, mas, infelizmente, não é só ali: é em quási todo o ensino em Portugal.

O Parlamento, no emtanto, nunca se preocupou com o facto, deveras alarmante, porque êle representa, nem mais nem menos, o rebaixamento da mentalidade portuguesa, cujos limites e conseqüências difícil é prever. Prevejo os eu porque sou velho e porque estudo, ao contrário de muitos, que passam a vida nos clube e no pagode.