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Sessão de 7 de Novembro de 1924 9

O ensino no nosso País tem descido enormemente há 05 anos a esta parte, desde que acabaram os chamados exames de madureza. Com a morte dêstes exames deu-se um gol pó formidável no ensino. Se não, vejamos: onde estão hoje as elites da sociedade portuguesa? A Câmara que me responda.

Ainda há pouco na Revue de Paris o embaixador inglês em Paris publicava um artigo em que se contava o caso de uma figura proeminente da política inglesa ter feito no Parlamento uma citação latina cuja construção foi criticada por um outro Deputado. Imediatamente o Deputado que a havia proferido apostou um guineo em como a sua frase estava bem construída. ;É assim a cultura do Parlamento inglês!

A nós interessa lá isso! Não interessa nada, principalmente a esta Câmara, que ainda ontem procurava escorraçar-me como uma pessoa que não sabia o que dizia! O que vale é que sou dotado de magnanimidade bastante para me rir.

Ainda hoje não há nação alguma em que não existam os exames de madureza ou correspondentes. Em França não lhe dão êsse nome, mas há o bacharelato.

Entra-se na Escola Politécnica com 18 anos do estudo e um concurso de entrada.

Se a Câmara acompanhasse bem êste incidente, não se demoraria em extinguir a Faculdade de Letras do Pôrto.

Os alunos da Faculdade escrevem português como se não tivessem exame de instrução primária.

Pedi ao Ministério da Instrução cópia dos exercícios dos alunos e responderam-me que não podiam dar essa cópia por amor dos alunos e do ensino. Vejam os Senhores que exercícios seriam êsses, que não podiam ver a luz do dia.

Encontrando há pouco um professor, preguntei-lhe como é que ia o ensino de medicina e êle respondeu-me que era um caos.

Eu, que conhecia aquilo, escrevi ao Sr. Leonardo dizendo que estava farto de não dar aula, que isto não podia continuar. Eu, que nunca faltei um minuto!

É uma cousa pavorosa o que se passa com as dispensas. Basta a morte de um gato do Sr. Reitor, para haver dispensa de aula!

Isto é uma orgia e uma cegada, e eu jamais colaborei em orgias e cegadas! Eu quero morrer com a consolação de nunca ter transigido com orgias!

É por isso que me querem escorraçar da Faculdade de Letras; porque eu era um professor que obrigava os professores a estar na ordem e os alunos a observar a disciplina.

Fazia isto porque eu não ia dar aulas por interesse pessoal, pois ganhava uma miséria, porque em Portugal o professor ganha uma miséria.

O que eu não quis foi ser criado do servir, criado do servir do Sr. Leonardo Coimbra. Saiba-o a Câmara e o País!

Eu não admito a ninguém que me conteste os direitos que me assistem como professor, como Deputado e como cidadão.

Os Senhores estão um pouco admirados de me ouvir falar hoje, porque julgavam naturalmente que eu era um patrasana o não sabia dizer duas palavras; mas os Senhores enganam-se, porque eu não fujo desta Câmara, e se não mo lembro do quando chamei sucia aos Deputados, o que tenho bem presente na memória é que desde que estou nesta Câmara tenho sempre dado aos meus colegas a consideração que devo. Várias vezes afirmei no meu jornal que há nesta casa verdadeiras aptidões e capacidades, que sofrem simplesmente dum êrro desgraçado que existe nesta terra: — o de haver muitos insignificantes que os azares da política elevam às mais altas culminâncias.

Efectivamente, no princípio da República apareceram três ou quatro homens felizes, mas que não quiseram em volta de si senão nulidades que lhes fizessem elogios:

Eu é que nunca beijei o pé a insignificantes.

Mas neste País faz-se tudo ao inverso, anda tudo invertido.

Não são os professores que devem andar às ordens dos estudantes.

Eu nunca tive uma hora de Poder, porque se a tivesse, ou eu ou os meus princípios. E tenho a honra de participar à Câmara e ao País que não sou um burro (não me venham dizer que esta palavra não é parlamentar), e como não sou um burro sei muito bem que não é desdouro para um homem cair.