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Diário da Câmara dos Deputados

sempre tive predilecção por êste estudo, o hoje tenho 65 anos. Querem saber mais do que eu!

Entre nós, os Srs. professores que me perdoem, os professores não estudam. Não ofendo ninguém dizendo isto; há também os que estudam.

Mas a maioria, não estuda nada, não quere saber nada.

Quem manda são os meninos; êles é que fazem as férias de dois meses.

Um rapaz veio ter comigo e chamou-me doutor... Disse-lhe logo: «Eu não quero isso, não quero ser doutor».

Num exercício um rapaz deu uma má prova; mas dizia muito bem do Sr. Leonardo, e eu dei-lhe um valor.

Dizem-me os outros alunos: «Então você dá um valor ao estudante, quando disso bem do Sr. Leonardo Coimbra?»

Não lhe podia dar zero.

Eram as tais «prerrogativas da Coroa...»

Aqui neste Parlamento, Garrett, num discurso, disse que a princesa D. Catarina, filha de D. João IV, era muito bonita.

Observaram-lhe, em resposta, que êle tinha feito um bom discurso, mas que quanto àquela parte se enganava, porque D. Catarina era muito feia.

Garrett observou-lhes: «Bem sei, mas eu julgava que era contra as prerrogativas da Coroa chamar-se feia a uma senhora».

Garrett estava sempre com as «prerrogativas da Coroa».

Eu também creio ser contra as «prerrogativas da coroa» do Sr. Leonardo dar um zero a estudante que me dissesse bem do Sr. Leonardo.

Vou para o outro mundo descansado, porque nunca ofendi, em cousa alguma, o Sr. Leonardo.

Vejamos agora outro ponto frisado pelo Sr. Leonardo Coimbra. Falou S. Exa. nas falsificações. Mas o que disse S. Exa. aqui naquele turbilhão de palavras a que se chama eloqüência?

Como neste país anda tudo desvirtuado! Chama-se já àquilo eloqüência, grande orador, génio de raça, quando aquilo foi sempre a negação da verdadeira eloqüência e sobretudo da boa eloqüência parlamentar, que é uma cousa muito especial!

Quando vou a França — e digo-o não para elogiar os homens doutro país, porque o português é inteligente, mas não se cultiva — vejo que a cultura literária dêsse país é enorme. A França primou sempre por isso. Tem mantido sempre uma luta intensa a favor dos estudos das humanidades, dos estudos 'clássicos.

Os senhores não viram ou não quiseram ver que uma das razões fundamentais da derrota da Alemanha foi o predomínio excessivo que ali deram à sciência prática, com prejuízo das humanidades, embora, (devo dizê-lo) êles tivessem sempre grandes tendências humanistas, embora tenham grandes e admiráveis professores.

Mas no povo, nas classes inferiores, isso apareceu muito deminuto. E assim o direito dos povos e dos homens, quási desapareceu sob a pata ferrada de «Ia force», palavras célebres de Bismarck e que foram o epitáfio que êle gravou na pedra rasa do grande império que elo criou. Quando surgiu a guerra eu disse sempre: «a Alemanha perde, a Alemanha perde, a Alemanha perde». E disse-o porque os meus conhecimentos de história me diziam que perde sempre, fica sempre vencido, fica sempre perdido o povo que põe a materialidade acima da espiritualidade. Ah! a luta eterna do homem entre a matéria e o espírito!

O homem a querer subir o a matéria a dominá-lo.

A que vem esta aspiração legítima das classes proletárias que querem o comunismo? E' uma aspiração do proletariado, mas êles não têm a cultura suficiente para saberem que a aspiração do espírito também tem um limite e naturalmente está escrito: daqui não passarás. E quando nós queremos passar além dêsse limite, damos com a cabeça numa pedra dura, caímos sem sentidos e aparecemos cobertos de sangue.

O homem veio ao mundo para trabalhar e sofrer. E como não havia, de assim ser se o homem veio ao mundo para procriar?... E desde que assim é, desde que há filhos, a obrigação dos pais é educá-los. O filho desde que nasce até que morre é para os pais motivo do sofrimento contínuo. Devemos procurar sempre um equilíbrio entre a matéria e o espírito de forma que nem o espírito se esqueça de que a matéria existe, nem a matéria, por sua vez, afogue o espírito.