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20 Diário da Câmara dos Deputados

cultura que acabava de chegar ao Pôrto, para em meu lugar atender ao assunto do pão:

"Electrizar - Pôrto (isto é: Serviços Municipais Gás e Electricidade - Pôrto) - Indique fiscalização alguma tolerância sòmente pão de luxo emquanto durarem circunstâncias anómalas como Lisboa. Sòmente pão de luxo".

Foi expedido a 29 de Janeiro, quando até mim tinham chegado queixas da panificação, de que estavam a apreender pão tradicionalmente fora da pesagem no Pôrto.

Devo esclarecer a Câmara de que no Pôrto há muitos mais tipos de pão que em Lisboa; as amostras de todos os pães que se fabricam no Pôrto e nos seus concelhos limítrofes enchem metade de um cêsto de padeiro.

E certas qualidades de pão têm feitio especial.

Assim no Pôrto "pão de luxo" é o pão de Viena de Áustria, o pão de fôrma, o pão francês, todos feitos com fermento estrangeiro; o pão regueifa e o pão de bico, com feitios próprios, e feitos com massa espêssa, comprimida; o pão biscoito, feito com farinha, açúcar e ovos; o pão cacete, de feitio especial.

Nunca nenhum dêstes pães foi fiscalizado no pêso.

E como tinha recomendado rigor para todo o pão de luxo, para atender a justas reclamações enviei aquele telegrama ao chefe do gabinete do Ministério da Agricultura, capitão Sarmento Pimentel, que tanto me ajudava e que sabe levar a carta a Garcia.

O outro pão normal de luxo estava, como todo, sujeito apenas à tolerância legal do decreto n.° 9:684, de 9 de Maio de 1924.

O telegrama não foi entregue ao chefe de gabinete; daí a exploração pouco sabedora e honesta a que se prestou.

Mas que tem o telegrama de censurável?

Onde há qualquer ordem minha de fraude no pêso do pão?

Abusou-se agora, como se abusou sempre, no pêso do pão.

Mas que culpa tem o Ministro no caso?

Eu sei muito bem que houve em Governos transactos abusos consentidos no pêso e na qualidade do pão.

Não se deu tal comigo; consegui que no Pôrto se generalizasse o pão de primeira qualidade, o que foi sempre inviável naquela terra.

É demais tanta fúria de mesquinhez comigo!

O trigo sempre é semente que não raro fica semanas e meses escondido debaixo da terra.

Já me aconteceu semeá-lo no comêço de Outubro, e só o ver a surgir da terra no Natal.

Por isso a farinha de Lisboa e do Pôrto me fugia para esconder-se...

O trigo também tem outro condão: ao moer-se, polvilha tudo de branco, até os telhados dos moinhos.

Mas quando eu sair do Govêrno, o meu casaco, que é preto, não há-de ir, com certeza, polvilhado de farinha.

De luvas só tenho um par que comprei em Lisboa e me custou 60$.

Todos que me ouvem sabem isto de mim. Mas eu quero dizê-lo também alto e bom som.

Apoiados.

Se estou aqui sem nada dever a nenhum partido político, na minha vida já longa e bem trabalhada de engenheiro também nada devi à política nem à negociata.

Dirijo hoje uma das grandes casas comerciais do País, não como gros-bounet decorativo, mas como director de funções permanentes e complexas.

Cheguei aí com muito trabalho e estudo, sem cobiça de lugares e sem favores de ninguém.

A honestidade e a correcção, o vigor dos meus braços e o esfôrço do meu cérebro obtuso têm sido os meios da minha vitória na vida.

Que não consultei o Parlamento...

Bem ficava Lisboa sem pão se viesse aqui pedir providências.

Pois não se vê do que trata o Parlamento?

Bizâncio...

Resolvi como entendi melhor; estou aqui a explicar o que fiz.

Se a Câmara dos Deputados não aprovar o que fiz, manifesto a sua desconfiança, que eu não tenho prazer nenhum em ser Ministro.

Falou-se aqui em favores à moagem e panificação.

O Sr. Sousa da Câmara afadigou-se em contas de diagramas, de prejuízos da la-