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Sessão de 10 de Fevereiro de 1925 39

Guerra sem tréguas ao Govêrno!

E ela apareceu.

O que aparece agora?

É o Govêrno acusado de estar a governar em guerra aberta com toda a gente.

Mas êste Govêrno procurou apenas defender-se da guerra que lhe faziam.

Defendeu-se da guerra que lhe declararam os Bancos, quando na sua suposta omnipotência julgaram que podiam dominar o Parlamento, e constituir um quarto poder do Estado.

Defendeu-se das oposições que partiam carteiras ou que, quando as não partiam, mandavam negócios urgentes todos os dias para a Mesa.

Esta foi a defesa do Govêrno.

Mas, como êste caminho não dava os resultados desejados, vá de tomar entre mãos casos do ordem pública em que o Govêrno não teve uma responsabilidade qualquer.

E assim nos jornais apareceu a notícia de que o Presidente do Ministério tinha dito que, na luta entre exploradores e explorados, o Govêrno se colocava ao lado dos explorados contra os exploradores.

Logo se disse que o Govêrno abria uma luta de classes.

E porque o Presidente do Ministério tinha afirmado que não queria a guarda republicana para espingardear o povo, vá de dizer que o Govêrno desprestigiou a guarda, o poder, a fôrça pública.

Vamos ver o que isto é e o que vale.

Há alguém que possa estranhar que o Presidente do Ministério tenha dito que, na luta entre exploradores e explorados, o Govêrno se colocava ao lado dos segundos?

Mas eu, antes de vir para o Govêrno, escrevi dezenas de vezes estas palavras; afirmei-o em conferências e na primeira vez em que aqui falei.

Já quando se procurava lançei sôbre êste Govêrno o epíteto de desordeiro, dizendo que nós queríamos organizar um golpe de Estado, eu fiz esta afirmação.

Mas, só ela é subversiva e porque não me mandaram desde logo embora?

Quere-se negar que na sociedade haja explorados.

Mas então como é que, em meia dúzia de dias ou anos, homens que eram pobres aparecem milionários?

Como se realizou êste prodígio?

Como é que a riqueza bafeja uns e outros cada vez mais se vêem depauperados?

Como é que os administradores da moagem guardam para si 400 contos e para o pobre do accionista lhe dão não sei o quê?

Mas a Câmara entende que não é esta a posição do Govêrno?

Di-lo claramente: "não queremos Govêrno que se coloque ao lado dos explorados contra os exploradores".

E eu vou-me embora.

Vou-me embora, e a sociedade portuguesa ficará sabendo que o Parlamento não quere um Govêrno que esteja ao lado dos explorados e sim ao lados dos exploradores.

Muitos apoiados.

O Sr. Cunha Leal: - Mas está ao lado das padarias independentes que não fabricam pão.

O Orador: - As padarias independentes estão todas funcionando. Fizeram greve durante um dia, mas terminou logo.

Apoiados.

Uma voz: - Mas fabricam pão sem peso.

O Orador: - O que esta Câmara não quere saber é que obriguei a moagem a perder dinheiro.

Muitos apoiados.

O que esta Câmara não quere saber, é que tendo o Govêrno sabido que a moagem devia ao Estado 4:500.000$, obrigou essa moagem a pagar o que devia.

Muitos apoiados.

Isso é que a Câmara parece não querer saber.

Muitos apoiados.

Àparte do Sr. Cunha Leal, que não foi percebido.

O Orador: - O Govêrno obrigou a moagem a pagar ao Estado o que devia.

Apoiados.

Disse, Sr. Presidente, que este Govêno na luta entre os exploradores e explorados se colocava ao lado dos explorados.

Disse e repito que estou ao lado dos explorados contra os exploradores.

Muitos apoiados.