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Sessão de 10 de Fevereiro de 1925 35

estilo para que me digam se isto é fazer o equilíbrio das classes.

O povo! O povo somos todos nós, mas há um povo diverso do outro povo e foi toda a vida assim. Nos comícios a que assisti nunca encontrei outro povo que não seja o que se manifesta agora ao lado do Govêrno. Nunca vi neles os elementos graduados de bancos e de Associações Comerciais e Industriais. Vi lá sempre o povo que sua: o povo da enxada, o povo da blusa, o povo do atelier, o povo da oficina.

Foi êsse povo que proclamou a República. Então é um crime o Govêrno declarar que está ao lado dêsse povo?

Andamos numa confusão deplorável!

Numa entrevista publicada hoje num jornal, o eminente democrata Magalhães de Lima diz:

Leu.

Chamo a atenção de todos os republicanos para estas palavras, que são ditas por um homem que eu classifico como um dos santos da democracia portuguesa, que me ensinou a amar a República e a rezar por ela.

Sr. Presidente: nesta guerra sem quartel, a guerra dos negócios urgentes, a guerra das interpelações, guerra que não deixa trabalhar nem descansar, guerra feita pelos adversários do Govêrno, oxalá que êssos adversários não tenham que se arrepender amargamente da atitude incompreensível que assumiram.

Vozes: - Muito bem.

O orador não reviu.

O Sr. Agatão Lança: - A esta hora da noite e depois dos acontecimentos que nós presenciámos, poucas palavras pronunciarei.

Eu espero desde ontem a resposta do Sr. Presidente do Ministério, e até agora não a tive.

Vou mandar uma moção para a Mesa e devo dizer a V. Exa. que não tendo tido resposta alguma...

O Sr. Presidente: - V. Exa. deve começar por ler a sua moção e mandá-la para a Mesa.

O Orador: - Peço desculpa de me esquecer das praxes do Regimento.

Moção

A Câmara dos Deputados, lamentando palavras proferidas e actos praticados durante a manisfestação da noite de sexta-feira passada, e reconhecendo que, pela ausência de uma acção sensata e ordeira do Poder Executivo foi profundamente afectado o prestígio da fôrça pública, a disciplina militar e a ordem social saúda a fôrça pública e passa à ordem do dia.

Lisboa, 11 de Fevereiro de 1925.- Armando Agatão Lança.

Sr. Presidente: dizia eu: depois dos acontecimentos que todos nós presenciámos e a esta hora da noite não irei alongar as minhas considerações, e também porque tenho a certeza de que a Câmara já tem a sua opinião formada; mas, se não me alongo em considerações a respeito da moção, não posso ficar em silêncio a respeito de considerações que foram feitas dentro desta Câmara por um Deputado que antes de mim usou da palavra.

Não irei estabelecer discussão com o Sr. Júlio Gonçalves; seria até ridículo da minha parte dar explicações ao Sr. Júlio Gonçalves por S. Exa. querer julgar a minha atitude política.

Eu tenho servido sempre a República e considero a fôrça pública, porque não sou como S. Exa. anti-militarista, que não pode ver a fôrça armada.

O Sr. Júlio Gonçalves (interrompendo): - V. Exa. dá-me licença? É preciso que V. Exa. entenda o que é o meu anti-militarismo.

Eu quero a nação armada para a sua própria defesa, mas não quero o exército de caserna.

O Orador: - S. Exa., como a Câmara acaba de ouvir, confessou o que eu disse, que é anti-militarista. Está, portanto, S. Exa. a distância da posição que eu ocupo e quero ocupar.

S. Exa. frisou há pouco o facto de, quando eu era Deputado independente, ter divergido de determinados actos praticados por um Govêrno democrático que era presidido pelo Sr. António Maria da Silva, e censurou me. Mas porquê? Então eu, como Deputado independente, não tenho êsse direito?