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Sessão de 27 e 28 de Abril de 1925 19

que diz ter vencido um movimento de desordem, que pretende fazer uma obra destas!

Somos nós adversários do regime, mas entendemos que neste momento toda a união entre os defensores da ordem é pouca.

Não se pode, nem se deve fazer o jôgo dos elementos estremixtas, provocando a divisão entre os conservadores.

Ora outra cousa não é o que o Sr. Presidente do Ministério pretende fazer, ou antes o que pretendem obrigá-lo a fazer e que S. Exa., com a fraqueza de que está dando provas, vai certamente praticar.

Com que fundamento quere o Sr. Presidente do Ministério, que ainda há dias afirmava nesta casa que a ordem estava assegurada e que não havia o menor indício de alteração da ordem que os trabalhos parlamentares sejam encenados? É porque não convém aos elementos, de quem S. Exa. está sendo um delegado pela sua fraqueza, a fiscalização parlamentar; é porque não lhes convém que haja oposição a impedir que se leve o País para o caminho da anarquia.

A ordem não se resume, evidentemente, à questão de não haver todos os dias revolução.

A ordem, nos seus diversos aspectos, não pode de forma alguma existir desde que haja ódios entre os portugueses, desde que não se respeitem os direitos de cada um e continue a actual situação económica e financeira do País.

Quem quere ser um elemento de ordem, a primeira cousa que tem a fazer é levar a ordem até a administração pública nos seus diferentes ramos. Ora pregunto: estando nós a 21 de Abril, e sabendo-se que a falta dum orçamento cuidado é um dos principais males da nossa administração, pode, porventura, o Parlamento suspender os seus trabalhos antes de cuidar de discutir as contas do Estado?!

O Sr. Vitorino Guimarães, que aqui tem tantas vezes protestado contra o facto de não serem discutidos a tempo os orçamentos, quere defender agora uma proposta que é o contrário das afirmações que, aqui sempre tem feito?

É por isso que eu digo que S. Exa. está a obedecer a imposições de pessoas que só querem lançar a desordem na sociedade portuguesa, a fim do destruírem os fundamentos da actual organização social. E assim S. Exa. vai às cegas, como vão o Sr. António Maria da Silva e todos aqueles que acima de tudo põem as conveniências partidárias, para um caminho perigoso, esquecendo-se da obra ruinosa que vão praticar e tomando irremediável, uma situação de que depois hão-de arrepender-se, mas já tardiamente.

Falou S. Exa. há pouco em governos de concentração, houve-os, é certo, em que se cometeu o êrro gravíssimo de se entrar numa ditadura, como foi aquela em que se publicaram os 30 suplementos ao Diário do Govêrno, em que se fizeram leis que são hoje um prejuízo irreparável para a Nação, em que se atentou contra os fundamentos da sociedade, em que os extremistas chegaram até a ter pastas na governação pública.

E o Sr. Presidente do Ministério não tem, ao menos, a atenuante que muitos outros tem, do desconhecimento completo das mais elementares cousas da administração pública.

S. Exa., que não está nessas condições e que sabe muito bem quantas dificuldades tem tido para resolver determinadas questões de carácter financeiro, não tem desculpa alguma.

A V. Exa., Sr. Vitorino Guimarães, nada há que o possa absolver de pôr os interêsses do seu Partido acima dos interêsses do seu País, e V. Exa. está-o fazendo por uma paixão política e por uma fraqueza absolutamente indesculpáveis!

Mas vem o Sr. José Domingues dos Santos dizer:

"Apresentei esta proposta, no decorrer desta discussão, porque as circunstâncias me provaram a sua necessidade"!

Como se nós não soubéssemos já, não estivéssemos mesmo fartos do saber pela imprensa, pela tal imprensa que está mandando no Govêrno, que esta era já uma medida premeditada, que se pensava assim, porque não se quere a incómoda fiscalização do Parlamento, porque se quere levar mais longe a anarquia, de que tantas manifestações temos dia a dia, até adentro dos próprios serviços públicos!