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10 Diário da Câmara dos Deputados

S. Exa. deixa ao seu sucessor uma situação desgraçada, porque deixou graves perturbações em milhares de operários e dificultou a vida nacional.

Tenho dito.

O orador não reviu.

Foi aprovada a acta.

O Sr. Presidente: - Morreu João Chagas! A Câmara dos Deputados tem o dever de prestar homenagem à sua memória ilustre.

João Chagas, republicano do mais puro e irredutível idealismo, dedicou uma vida inteira ao serviço do seu ideal. Por êsse ideal se bateu sem fadiga, por êsse ideal sofreu as mais torturantes agonias, por êsse ideal sacrificou comodidades e interêsses. Nenhuma tentação abalou a sua firmeza, como nenhuma violência fez sossobrar a sua energia. A superioridade da sua inteligência luminosa correspondia a altanaria da sua estatura moral inflexível.

Sobranceiro a paixões que inferiorizam ou a ambições que desorientam, jamais umas ou outras nublaram, na sua alma límpida, a fé na República muito amada.

Um homem da sua têmpera e da sua fé é um homem que se impõe ao respeito de todos os homens, qualquer que seja a crença que os oriente. É para todos um nobre exemplo.

Mas João Chagas, se foi o grande republicano de fé tam ardente que resistiu às tempestades mais violentas sem estremecer, que suportou a dureza dos cárceres sem que o seu forte espírito amolecesse um instante, foi também o homem de letras eminente, o cronista excepcional e o panfletário vigoroso e elegante, a quem a literatura portuguesa fica devendo fulgurantes páginas, como foi o patriota ardente que sonhou e quis para Portugal a maior ventura.

Os méritos e virtudes de João Chagas eram tantos e tam grandes, que a Câmara dos Deputados não pode deixar de render à sua memória excelsa as homenagens do maior e mais enternecido sentimento. Por isso, proponho um voto de pesar pela sua morte, porque ela é a morte duma grande individualidade nacional.

Proponho ainda o encerramento da sessão pelo mesmo motivo.

Na bárbara, arrepiadora e incessante tarefa de ceifar, a morte arrebatou também de Portugal um grande artista: - Eduardo Brasão.

O actor supremo que interpretou, com maravilhosa perfeição, tantos tipos de tragédia, os mais complexos e difíceis, dando-lhes alma, relêvo e vida, muitas vezes empolgou, como se fôra a própria verdade, os nervos e as almas dos que porventura o apreciaram nas esplêndidas criações que o seu assombroso talento dramático produziu.

A esbelteza da sua figura, a justeza da sua dicção, a beleza do seu gesto amplo e expressivo, o privilegiado conjunto das suas faculdades histriónicas, fizeram de Eduardo Brasão um mestre da arte de representar, mestre em toda a parte do mundo e em qualquer época.

É uma glória portuguesa que se esconde no imperturbável mistério do Nada.

Pela morte do extraordinário artista proponho à Câmara um voto de sentimento.

Desapareceu também uma outra grande personalidade, apesar da sua natural e obstinada modéstia, o antigo Deputado à Assemblea Nacional Constituinte, João Fiel Stockler.

Oficial de marinha dos mais distintos, êle foi um dos revolucionários mais resolutos da implantação da República em 5 de Outubro de 1910. A sua morte representa a perda de um grande republicano.

Proponho um voto do mais profundo sentimento.

Comunico também à Câmara o falecimento do Sr. José Maria Campos Melo, Dr. José Augusto de Lemos Peixoto e Dr. José Domingues de Oliveira, antigos Deputados, e de um filho do Sr. Ministro da Guerra, propondo igualmente votos de sentimento.

S. Exa. não reviu.

O Sr. Presidente do Ministério e Ministro das Finanças (Vitorino Guimarães): - Sr. Presidente: vou mandar para a Mesa duas propostas de lei que se ligam com a morte de João Chagas, para as quais peço urgência e dispensa do Regimento para serem votados na sessão de hoje.

A primeira releva ao Govêrno a responsabilidade de ter aberto um crédito para os funerais de João Chagas e outro