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12 Diário da Câmara dos Deputados

Sr. Presidente: há uma frase com que o ilustre comandante e Deputado Sr. Rodrigues Gaspar terminou o seu discurso, que eu ligo perfeitamente a esta parte da declaração, em que o Govêrno afirma que há-de garantir a maior liberdade no exercício da soberania da Nação, quando vierem a realizar-se as próximas eleições.

Essa frase é a seguinte: "O Sr. Rodrigues Gaspar, falando em nome do seu partido, assegura o apoio sincero, próprio de homens que só desejam que á Republica progrida".

Sr. Presidente: se faço referência a esta frase não 6 para, de modo nenhum pôr em dúvida, a sinceridade com que foi pi aferida, mas para dizer que o partido em cujo nome o Sr. Rodrigues Gaspar falou entende por "progredir a República" o estar sempre nas cadeiras do Poder.

Assim é que a República progride!

Mas, Sr. Presidente, esta afirmação da máxima liberdade no acto eleitoral, feita pelo Sr. Presidente do Ministério, obriga-me a lembrar a S. Exa. um facto de que me parece que S. Exa. se esqueceu, ao escrever estas palavras. É que os correligionários de S. Exa., na sua quási generalidade, pensam como o Sr. Rodrigues Gaspar: A República progrido estando no Poder aquele partido, tenho por consequência, maioria no Parlamento, maioria que se obtém pelos meios mais fáceis.

Sr. Presidente: o Sr. Presidente do Ministério garante-nos a máxima liberdade, mas o que é verdade é que S. Exa. há-de estar no seu gabinete do Terreiro do Paço, e há-de ter como seus delegados êsses mesmos indivíduos que têm feito as outras eleições, e que motivaram os nossos protestos.

O Sr. Agatão Lança (interrompendo): - São um bocadinho melhores do que aqueles que V. Exas. tinham quando estiveram no Poder em 1921.

O Orador: - Há uma confusão enorme entre o meu partido e o que não é o meu partido.

Em 1921 não existia o Partido Nacionalista, e por sinal eu fui mimoseado nessas eleições por indivíduos que não são hoje, felizmente, meus correligionários, mas sim do Sr. Presidente do Ministério. A diferença é tam grande entro o Partido Nacionalista e o Partido Liberai que os indivíduos que em 1921 combateram por todos os modos a minha eleição, espancando pessoas como o Sr. Américo Olavo, a quem deixaram como morto, são hoje felizmente democráticos.

Sr. Presidente: não há, portanto, o direito de confundir.

Ao ouvir as afirmações dos Srs. Sá Cardoso e José Domingues dos Santos eu fiquei sabendo que S. Exas., ou melhor, os agrupamentos parlamentares que S. Exas. representam, davam a êste Govêrno uma expectativa benévola.

Se o Govêrno actual tem fundamentalmente a mesma constituição o as mesmas características do anterior, não se compreende fàcilmente, como ontem foz notar o meu ilustre leader Sr. Cunha Leal, que as atitudes mudassem.

Convém esclarecer desde já que até hoje todos aqueles que têm pretendido derrubar Governos consideram como votos seus os votos do Partido Nacionalista, e, assim, dizem: "Contamos com tantos votos nacionalistas".

Mas acaba hoje essa contagem.

O Partido Nacionalista, enviando para a Mesa uma moção nitidamente de desconfiança ao Govêrno, como é aquela que eu daqui a pouco vou ter a honra de Ier5 tem por fim marcar a sua posição e ao mesmo tempo a dos outros grupos parlamentares.

Os nossos votos não podem estar ao serviço de quem quer que seja; estão apenas ao serviço do nosso partido.

Só, neste momento, os dois grupos a acabei de referir-me entendem que o Govêrno está bem constituído, e está bem onde está; e se finalmente entendem que merece a sua confiança. Êsses grupos ficam, desde já, no conhecimento de que não mais podem contar com os votos do Partido Nacionalista para quando a êles lhes convier derrubar o Govêrno.

E dá-se êste caso curioso e interessante: é que um Govêrno constituído em condições de todos suporem que não resistiria à primeira hora de debate político nesta Câmara, é um Govêrno que, pode dizer-se, tem a sua vida assegurada, porque não querendo nós ser accionistas ou