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Sessão de 6 de Agosto de 1925 23

do dever a cumprir. O Sr. Cunha Leal fez alusão a êsse dever, parecendo-me que o não interpretava do mesmo modo que eu. interpretei. Entretanto, ainda agora, depois de ter ouvido o seu discurso eloquente, em que se mo afigura ter procurado demonstrar que eu tinha compreendido mal o meu dever, eu. fico cada vez mais convencido de que fui um fiel cumpridor dêsse dever.

Apoiados.

Os homens públicos não podem fugir às circunstâncias que os impelem a ocupar determinadas situações. E, se eu não tinha nenhum desejo pessoal - bem pelo contrário- de vir ocupar aquela em que me encontro agora, esforcei-me por levar a cabo a missão de que fui incumbido, por me convencer de que não podia honestamente fugir à situação em que estou. A crise era difícil e se eu não procurasse organizar Ministério, ela tornar-se-ia mais difícil ainda. Se acaso eu não fôsse por diante na minha tentativa, a esta hora seria objectivo das censuras de todos, porque então não faltaria quem dissesse que eu não tinha correspondido às minhas responsabilidades de português e republicano.

O Chefe do Estado, incumbindo-mo de organizar Ministério, disse-me que desejava a organização de um Govêrno de conciliação. Empregando esta expressão, não quis que o Sr. Presidente de modo algum restringir a minha missão. Se as circunstâncias o permitissem, se os agrupamentos políticos se encontrassem de acordo para que se constituísse um Ministério em que todos tivessem representação, o Sr. Presidente da República não me teria impedido de dar representação no Govêrno a todos os partidos e, portanto, ao Partido Nacionalista.

Não ouvi uma única palavra a S. Exa. que não fôsse de respeito máximo por todos os partidos e correntes políticas.

Não a ouvi agora, como nunca a ouvi em ocasião alguma. O Chefe do Estado não quere e não aceita incompatibilidades nem com partidos nem com políticos.

Sr. Presidente: algumas palavras que têm sido dirigidas à maneira como S. Exa. tem desempenhado a sua missão, são determinadas por apaixonados sentimentos que não posso de modo nenhum aplaudir, mas lamentar.

Posso garantir que se o Ministério tivesse sido constituído de forma que todos os partidos tivessem representação nele, o Chefe do Estado teria nesse facto uma grande satisfação para o seu espírito de patriota. Se os partidos aqui não têm delegados é porque não quiseram e não porque o Sr. Presidente da República o tenha impedido. O Ministério foi organizado como as circunstancias o permitiram. Se falo assim isso não implica que me não sinta muito bem acompanhado.

Os homens que constituem esto Govêrno têm todos a mesma preocupação superior de servir a República e o País e, tanto assim que quando li em Conselho de Ministros a declaração ministerial nos termos conciliadores em que está redigida, nenhum dos meus colegas pronunciou uma só palavra que pudesse por qualquer forma dificultar a redacção final que lhe dei e que à Câmara foi lida.

Quere isto dizer, Sr. Presidente, que todos os homens que estão ao meu lado têm a noção exacta do seu dever, neste momento difícil, e que estão todos animados do mesmo desejo que eu tenho, de servir a República e o País acima de discórdias e de lutas. Aludiu o Sr. Cunha Leal, assim como o Sr. José Domingues dos Santos - ao qual agradeço também as gentilíssimas e generosas expressões que me dirigiu - as palavras atribuídas a alguns dos membros do actual Govêrno numa homenagem ao ilustre chefe do Ministério anterior que lhes dão a impressão de que não estão de acordo com as minhas afirmações. Estou habilitado, por espontâneas e imediatas declarações dos meus colegas visados, a assegurar que a essas palavras foi dada uma significação diversa da que elas encerravam e que a sua reprodução não foi exacta. Nem podia ser de outro modo, visto que se encontram aqui nestas cadeiras. Por êles e por mim, não podiam fazer-me a imposição de qualquer orientação política diferente da consignada na declaração ministerial com que estão de acordo. A minha política, a política do Govêrno, está definida na declaração ministerial, e é a política de uma hora de sacrifício.

Parece que o problema que mais aflige neste instante os homens da República e até os homens da Monarquia é o problema eleitoral. Não há razão para apreensões.