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Sessão de 3 de Dezembro de 1918 11

mentos ali suportados foram talvez mais árduos.

Se, em consequência dum longo período de paz, podia a alguém assaltar a dúvida sôbre se o soldado ou o marinheiro português conservaria as antigas qualidades que tanto nos exaltavam militarmente, essas dúvidas converteram-se, pelos sucessos da recente guerra, na mais gloriosa certeza. Glória às nossas fôrças de terra e mar!

Infelizmente esta fidelidade na fé cristã não é geral em outras classes.

Tem-se feito enorme propaganda de impiedade pela conferência, pela imprensa, pela legislação.

Ora, prossegue o orador, seja-me lícito preguntar qual era maior, mais glorioso: o Portugal de Nun'Álvares, que no mais aceso da batalha indecisa a largava para vir invocar a Virgem em prece ardentíssima, ou o Portugal de certo período recente, felizmente findo, em que se planeou descristianizar a golpes de leis ímpias êste país cimentado com fé católica e se prometeu, em sessão do Grande Oriente, que se haveria de, em duas gerações, extirpar essa fé até a última raiz?

Não senhores, render graças a Deus depois da vitória é o mais elementar dever do homem, porque é o reconhecimento de que a história não é um acaso, mas o produto daquela omnipotência dirigente das nações, a que se refere Wilson.

E, se assim não fôsse, para que serviria proclamar, como tantas vezes o fizeram os aliados, que a sua causa era a do direito e da justiça?

Se é dum simples embate de forcas materiais que resulta a vitória, então teremos proclamado, em vez da fôrça do direito, o direito da fôrça, que era precisamente a teso germânica.

Ora a mais sumária consideração das fases desta guerra mostra como não basta e fôrça para vencer, e não foi, com efeito, a fôrça que venceu.

Porquanto foi a fôrça que, por confiar exclusivamente no seu predomínio sem atenção ao direito, antes com inteiro desprêso dêste, foi a própria fautora da sua derrota.

Os impérios centrais, absolutamente certos da vitória, como de princípio o estavam pela mais formidável das preparações, recearam que a França, que, perante a guerra, recuara outras vezes, recuasse mais uma vez, e digo que o receavam porque era sôbre as riquezas da França que a cobiça alemã mais pretendia saciar-se.

Dirigiu-lhe, pois, o ultimatum conhecido.

Para ficar neutral teria a França de sujeitar-se à humilhação inconcebível de entregar, como reféns, Verdun e Toul.

E a França, não obstante a sua quási completa falta de preparação, entrou na guerra.

E foi ela quem, logo no princípio da luta, deteve a formidável invasão nas margens do Marne, realizando o que o Sr. Ministro dos Estrangeiros acabava de denominar o milagre do Marne. E foi depois o poliu, por todo o decurso da guerra, decerto o mais duro, o mais resistente adversário, o que suportou o maior peso da guerra.

Para melhor assegurar o seu golpe, a Alemanha resolveu invadir a Bélgica, fazendo num farrapo o papel do tratado que ela própria assinara.

E foi desta brutalidade da fôrça contra o direito que nasceu a intervenção da Inglaterra.

Ora a Inglaterra foi para os impérios centrais o bloqueio marítimo, isto é a fome;

E, a curto trecho, foi a mais um adversário terrestre com milhões de homens em todas as frentes.

Finalmente, a Alemanha, contra todas as leis da guerra, inventou a guerra submarina até contra as marinhas mercantes neutras e sem aviso prévio.

Não se preocupou em saber se isso não seria um abuso da fôrça.

Viu só que isso lhe convinha.

E foi dêste abuso, directamente, que nasceu a intervenção da América, que constituiu, na sorte da guerra o golpe decisivo.

Assim se verifica, senhores, que a Alemanha morreu por onde pecou.

Duma superioridade militar esmagadora, ao princípio foram os seus próprios atentados da fôrça contra o direito, que directa e seguramente a conduziram à derrota.

Assim se verifica mais um ditado português: que Deus escreve direito por linhas tortas.