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8 Diário das Sessões do Senado

publicaria do nosso Govêrno. Que seria hoje de nós; se tivéssemos ainda que promover no país o avanço que a República lhe deu no campo jurídico e social?

Quando a conflagração europeia se declarou e os estadistas portugueses se quedaram estáticos sem saber como haviam de agir, eu não tive dúvida tambêm em me pronunciar, e tive a honra de ser a primeira pessoa que indicou ao país que o caminho que lhe cumpria seguir. Era o caminho do Dever. Era o caminho da Honra. Mas era tambêm o caminho do sacrifício, porque o que eu tratara e que, bem ou mal, foi seguido, ia alêm do que nos era imposto pelos tratados e convenções seculares da nossa aliança.

Passaram-se horas dolorosas. A dúvida era justificada.

E porque me sinto hoje liberto dessas duas tremendas responsabilidades que pesavam sôbre mim, eu não posso esquecer, aqueles que comigo colaboravam na implantação da República, nem olvidar os que, expontaneamente, perfilharam a minha indicação e fizeram dela sua bandeira política tornando possível, e realizando, a comparticipação de Portugal na guerra. A êsses, principais autores do triunfo que hoje glorificamos aqui, as minhas homenagens mais calorosas. Os fastos da História (com H grande), e o que aqui celebrizamos é o mais grandioso de todos, tomam-se em conjunto e não em detalhe. Os erros esquecem primeiro e por fim apagam-se perante a grandeza da obra que se realiza.

Ao firmar-se a paz internacional. Portugal pode entrar de cabeça bem erguida na liga das nações, devidamente preparado jurídica e socialmente, coberto de glória e com o seu território intacto.

V. Exas., Srs. Ministro e leaders, acabaram de saudar os nossos soldados e marinheiros; mas o que V. Exas. não sabem, e agora refiro me a todos os Srs. Ministros, é que muitos dêsses homens que se bateram pela causa do Direito, da Liberdade e da Justiça, se encontram presos, há meses, sem culpa formada nas casas-matas dos fortes.

O Senado ouviu da boca do Sr. Ministro dos Estrangeiros a narrativa do feito heróico do caça-minas Augusto de Castilho, que se sacrificou para salvar o paquete S. Miguel que alêm da carga, ia repleto de passageiros; mas o que o Senado não ouviu da boca do Ministro, porque o Ministro o não sabe, por certo, é que, ainda não eram passados dois dias a polícia devassava a casa da enlutada viúva do intrépido oficial que comandara o caça-minas e apreendia as espingardas de ar comprimido com que brincavam os seus filhos!

Factos revoltantes como êste posso citá-los aos centos e invocar a testemunha dos dez mil e tantos presos políticos que se encontram nas cadeias, com a seguinte note de culpa: «preso às tantas horas do dia tal pelo agente Fulano».

É esta, Sr. Presidente e Srs. Senadores, a Liberdade que temos. E êste, Sr. Presidente e Srs. Senadores, o Direito que nos rege. É esta, Sr. Presidente e Srs. Senadores, a Justiça que possuímos.

Como podemos nós fazer acreditar lá. fora o nosso entusiasmo pelo triunfo da causa do Direito, da Liberdade e da Justiça, se o Direito que temos se chama opressão, se a Liberdade que gozamos se chama casa-mata ou presídio, se a Justiça que possuímos se chama tirania?

Eu associo-me a todas as saudações propostas, mas associo-me com actos e não com palavras. Os actos e não as palavras é que acreditam os povos.

É muito pequeno o nosso país para que se possa fazer valer na conferência da paz só com palavreado oco. E muito pequeno para colher lucros externos duma vitória que internamente não soube alcançar. E mais pequeno êle parecerá se se apresentar dividido por facções, em vez de se apresentar unido, cheio de fôrca moral, pelo passado e pelo presente, que pode ser belo e fecundo, preparador dum futuro próspero.

E por assim pensar que vou ter a honra de enviar para a Mesa um projecto de lei, para o qual peço urgência e dispensa do Regimento.

Estou certo pelas palavras que ouvi a, um dos membros do Govêrno e pelas palavras que ouvi tambêm a todos os oradores que me precederam, que êste meu projecto vai ser votado por unanimidade.

Leu.

Êste projecto está assinado por mais; dois Srs. Senadores.