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Sessão de 17 de Fevereiro de 1919 15

e consumir o do primeiro muito mais caro e por isso destinado às classes médias e abastadas.

Mas será êsse outro tipo de pão o que mais convêm à higiene do consumidor pobre, que no seu trabalho depende fortes energias e julga encontrá-las em tal alimento?

Afoitamente respondo que não.

Todos os higienistas declaram que o pão fino de alvura deslumbrante, tam apetecido pelas classes abastadas, é pouco digerível e falho do valor nutritivo que do pão é justo exigir-se.

O consumidor, em geral, embora não tenha conhecimentos de química biológica para estudar êste assunto, está habituado a exigir empiricamente que o pão que consome tenha determinadas qualidades e certo valor nutritivo.

Quando essas qualidades e valor alibil faltam ao pão, sente-as lentamente pela observação do que se passa no seu organismo.

E assim que o consumidor pobre vem a reconhecer que o pão fino, falho de matéria azotada e superabundante em matérias amiláceas, não lhe presta a nutrição suficiente compensadora das energias que o trabalhor obriga a despender.

O consumidor pertencente às classes abastadas, consumindo êsse por elas preferido, tem recursos monetários para ir buscar a compensação da deficiência altriz noutros alimentos ricos de azote, e, por isso mesmo mais caros, e portanto fora do alcance da bôlsa do pobre.

Falta ao pão fino o glúten ou matéria azotada. Aonde se há-de ir procurar a compensação fisiológica, indispensável ao organismo?

A carne e ao peixe, por via de regra.

Mas o preço da carne e do peixe está hoje pela hora da morte, como costuma dizer-se, atento a falta e carestia dêstes dois alimentos!

De maneira que o povo, fugindo dum extremo — o pão de segundo tipo, intragável—, vai cair noutro extremo — o do pão fino, de condição altriz insuficiente, que obriga a um suplemento caro, representado pela carne ou pelo peixe.

Em toda a parte a carne está caia, por virtude da guerra que lhe aumentou o consumo e diminuiu a produção.

Na Europa o gado bovino está escasseando, por ter sido consumida por muitíssima gente que, chamada a entrar na guerra, passou a alimentar se de carne de vaca, que dantes quási era de todo desconhecida.

O soldado na guerra tinha de ser fortemente alimentado com carne de vaca; daí o desfalque enorme que se produziu na população bovina em todas as nações da Europa.

Por isso a América do Norte, no afan de prestar o seu valiosíssimo auxílio aos aliados europeus, promete mandar animais bovinos para suprir o deficit da velha Europa.

Em Portugal, mais do que noutro qualquer país europeu, a espécie bovina sempre escassa, rareia agora assustadoramente, em prejuízo da pública alimentação e dos trabalhos da agricultura.

Sendo a espécie bovina, em toda a parte, a principal produtora de carne, lamentável é que em todos os tempos, o nosso país tenha acusado um deficit dêsse gado. Todos os anos importamos mais bois do que exportamos e é sempre com a vizinha Espanha que mantemos essa dupla corrente comercial, sendo o excesso anual da nossa importação sôbre a exportação, de cêrca de vinte a vinte e cinco mil cabeças.

Durante a guerra estas antigas e habituais condições agravaram-se.

A importação de gado de Espanha deixou de fazer-se, porque a Espanha a proibiu, e, quanto à nossa exportação de gado vacum, aumentou infelizmente, mercê do contrabando provocado pela diferença cambial da moeda, que veio favorecer êsse tráfego clandestino. De modo que, se dantes pouco era o nosso stock bovino indígena, durante e depois da guerra mais reduzido ficou, por ter cessado a costumada importação e ter crescido simultaneamente a exportação dêsse armentio.

Hoje, Sr. Presidente, encontramo-nos na triste situação de não termos carne para comer!

Relativamente ao peixe, todos sabem que hoje pouco é o que no país existe, sobretudo em Lisboa, onde, por ser raro se fez caro, inacessível à bôlsa do pobre, atribuindo-se essa escassês e consequente carestia à falta de combustível para os