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Diário das Sessões do Senado

lada por alguns sargentos, que não estavam no segredo da conspiração, ia dando origem a desinteligências que poderiam originar qualquer tragédia. A tempo con-, seguiram evitá-la, ignorando eu por que processos.

A cerimónia da implantação do velho regime constituiu uma verdadeira manifestação fúnebre. Nem discursos, nem palmas, nem vivas. Apenas um arrear e içar de bandeiras; a tanto se limitou a manifestação de que resultaria substituir--se um regime de democracia pelo regime do privilégio, como regime de crápula e de latrocínios derrubado a tiros de canhão na célebre jornada de 4 e 5 de Outubro de 1910. Por traição nenhum regime consegue vingar. O movimento monárquico, portanto, nascia morto. Trazia no ventre o germe da sua própria destruição, da sua ruína.

Sr. Presidente; o que foram esses vinte e quatro dias da pseudo-monarquia no Porto só pode testemunhar quem lá os passou, só quem experimentou o furor canibalesco dos seus sequazes, nania desenvoltura perseguidora de arrepiar todos aqueles a queni a traição infelicitou.

Kepublicanos dalgum valor, daqueles que nunca desertam dos seus postos, poucos eram os libertos, porque na sua cuási totalidade desde muito se encontravam, ou presos, ou homisiados. Tudo isto fazia parte do plano, para que a resistência não surgisse a estorvar a execução do hediondo acto: a traição.

Os raros republicanos que apareciam, ainda os mais modestos, que por isto mesmo se atreviam à sair à rua, não eram poupados, e os maus tratos recebiam de pronto, quando -fartos de torturas, se revoltavam contra os seus algozes. A toda a hora, em pleno dia, grupos de caceteiros, recrutados a 1$50 por cabeça, nas províncias de Trás-os-Mcntes, Douro e Minho, percorriam a cidade dum a outro extremo em procura de republicanos, como se procurassem animais ferozes para neles cevarem todo o seu ódio de perseguições e vingança. E chamo-os caceteiros, e não trauliteiros, porque este termo, creio que lançado por meio do teatro, não exprime, quanto a mini, a idea do caceteiro, cujos actos nos tempos do miguelismo tanto se vincaram na alma ingénua.e bondo.sa dos velhos combaten-

tes por um ideal de liberdade, que se encontra sem par nos que implantaram o regime republicano em Portugal.

Justiça ao Porto. Não nos seus arrabaldes, mas no Minho, em Trás-os-Mon-tes, em Viana, em Vila Eeal, em Miran-dela e em outros tantos lugares é que se recrutavam os caceteiros que em correrias vertiginosas, a toda a hora do dia e da noite, procuravam onde cevar a sede de sangue e de vítimas.

Até praças do exército, algumas mesmo graduadas, faziam parte desses bandos de facínoras que infestavam a cidade, tornando-a inabitável e mesmo perigosa para aquelas pessoas que nunca participaram das lutas políticas de partidos.

Isto se passou na cidade do Porto, isto que não passa dum pálido reflexo das sce-nas horripilantes oferecidas a nacionais e estrangeiros, como modelo das velhas lutas medievais em que o ódio de família tinha de, por força, ser afogado em sangue, 01.1 então reminiscências do miguelismo, em que essas mesmas lutas de família se patentearam a toda a luz e com as mais requintadas manifestações de selvajaria. E sabe V. Ex.a quem arregimentava ês';es bandidos que se intitulavam políticos? Quem os acompanhava ou trazia ao Porto, para os pôr ao serviço do famigerado bandido Solari Alegro? Os sacerdotes do cristianismo. A uma dessas scenas de cobarde agressão eu assisti: foi junto do Jardim de S. Lázaro.

Em -pleno dia, pelas. 13 horas, uns bandidos, desses que os padres capitaneavam, acercam-se dalgumas pessoas, batendo-lhes sem dó nem piedade. As cabeças e braços partidos são sem conta. Os gritos aflitivos das vítimas ouvem-se a larga distância. Ninguém lhes acode. O terror havia-se apoderado de toda aquela gente.